17 de abril de 2021

Psicóloga fala dos perigos da fadiga da quarentena e do isolamento social

Após seis meses de quarentena, muitas pessoas têm vivenciado uma espécie de fadiga do isolamento social e das medidas restritivas, necessárias para combater a pandemia da Covid-19.

Essa fadiga favorece o relaxamento das práticas dos cuidados individuais que precisaram ser adotados por todos, como lavar as mãos com mais frequência, higienizar os produtos comprados, usar a máscara e manter uma distância segura entre as pessoas.

Esse fenômeno ocorre em um momento crítico, que é o de retomadas das atividades econômicas e flexibilização das medidas restritivas. Uma das consequências desse processo é o aumento do fluxo de pessoas nas ruas e em estabelecimentos comerciais. Contudo, se as pessoas relaxarem a prática do autocuidado, existe o risco de que os casos de infecção voltem a subir e as medidas restritivas precisem ser reestabelecidas.

Em uma pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e divulgada em uma matéria da BBC, estima-se que, em alguns grupos, a fadiga da pandemia chega a 60%.

“Restrições pandêmicas impuseram dificuldades e inconveniências na vida cotidiana, e todos experimentaram algum tipo de perda – de renda ou de emprego, de progresso educacional, de estar com amigos e família, de se envolver em atividades esportivas ou da chance de participar em rituais importantes como casamentos, formaturas, funerais e muito mais. Está bem estabelecido que a pandemia e suas restrições levaram ao estresse, solidão e tédio, e tiveram um impacto negativo no bem-estar e na saúde mental de muitos” aponta um levantamento realizado pela OMS.

Confira a pesquisa na íntegra em: Pandemic fatigue – Reinvigorating the public to prevent COVID-19.

Cláudia Cruz, psicóloga da S.O.S. Vida, falou sobre as mudanças de comportamento das pessoas associadas a uma “fadiga” da quarentena.

Imediatismo x Desgaste | Rádio Sociedade

“Aquela sensação de imediatismo que tínhamos no início passou (…). Agora estamos lidando com outro processo: o processo do desgaste. Hoje estamos cansados, vemos muitos vídeos das pessoas mostrando o início da quarentena e agora; as pessoas não aguentam mais, estão desmotivadas para manter a segurança e todos os cuidados. E esse momento de reabertura da cidade, dos serviços, acaba fortalecendo essa fadiga”.

Essa mudança de comportamento das pessoas, segundo a psicóloga, se deve a diversos fatores, como cansaço, estresse crônico, diminuição da sensibilidade aos avisos de alerta e incapacidade de processar novas informações.

Ouça a entrevista completa na Rádio Sociedade

Os cuidados precisam ser incorporados à rotina

A profissional explicou que o desgaste e consequente relaxamento com as medidas de segurança, como sair de casa sem a máscara e precisar retornar para buscar, não necessariamente ocorre de forma consciente. Ela explica que o ser humano busca pelo prazer, o que torna a sustentação da privação de momentos prazerosos, por um período longo, e quando privado dele por um período muito longo.

Contudo, é importante continuar praticando o autocuidado para reduzir o risco de contaminação pela Covid-19, especialmente em um cenário de flexibilização das medidas restritivas e de mobilidade, que favorece o aumento do fluxo de pessoas nas ruas, o que eleva o risco de infecção pelo novo coronavírus.

“Incorporar os cuidados a nossa rotina pode ajudar bastante, porque quando a gente incorpora à rotina fazemos com naturalidade. Eu não fico com aquele peso, com aquela resistência porque é algo novo, que dá trabalho; é como escovar os dentes, é como tomar um banho. Tentar fazer com que a nossa rotina não seja só isso: eu preciso pensar minha vida, preciso ampliar a minha percepção, preciso fazer coisas que são interessantes, que me ajude a viver, a ter prazer”, orienta a psicóloga.

Leia também: Os impactos do distanciamento e do isolamento social na saúde mental das pessoas

A busca pelo controle

Em entrevista a Rádio Excelsior, Cláudia Cruz explica que, diante desses fatores, o cérebro passa a buscar a retomada do controle.

“O cérebro, na tentativa de evitar o colapso e retomar a sensação de controle, busca diminuir essa carga excessiva de estresse causada pelo medo, pela hipervigilância de não se contaminar; acaba relaxando os cuidados e nos deixando mais impacientes ou mais descrentes com relação à interpretação dos avisos, como sinais reais ou relevantes. Alteramos as regras ou interrompemos os comportamentos de segurança, como o uso de máscara, de higiene das mãos e o distanciamento social” explica a psicóloga.

Confira as dicas recomendadas pela psicóloga Cláudia Cruz

1. Acredite que tudo vai passar e pratique a paciência e a tolerância, pois a irritação não vai alterar o contexto que estamos vivendo.

2. Encare a realidade com seriedade, pois o perigo da doença é real. Pense nas recompensas que você ganha quando cuida de si mesmo. Isso pode ajudar.

3. Busque o autocuidado. Mantenha uma rotina saudável, com uma boa alimentação, práticas de exercícios e momentos prazerosos. Isso nos ajuda a nos sentirmos bem, a termos saúde mental. Quando nos sentimos bem, nos afastamos de sentimos como tristeza, angústia e ansiedade.

4. Transformar práticas de seguranças em hábitos, pois quando as incorporamos na nossa rotina fazemos com naturalidade, sem o peso da obrigação.

5. Compartilhar experiências com familiares e pessoas amigas. Isso nos ajuda a exercitar o sentimento de pertencimento a um grupo social, pois somos seres sociais. Além disso, nos sentimos menos solitários e podemos aprender com a experiência do outro.

6. Busque ajuda profissional quando faltam recursos internos para enfrentar as dificuldades. Existem serviços que estão sendo disponibilizados à população de forma gratuita, para atender as demandas geradas pela pandemia.

Leia também: “Fadiga da quarentena” pode reduzir cuidados de prevenção e reduzir isolamento social

Ouça a entrevista completa na Rádio Excelsior

Cenário da Saúde Hoje

A fadiga da quarentena foi um dos assuntos discutidos no webinar “Cenário da Saúde Hoje” com a participação dos médicos Marta Simone, gerente da S.O.S. Vida (SE), Leonardo Baumworcel, diretor técnico do Hospital São Lucas (SE) e Guilherme Espírito Santo, superintendente assistencial da Rede Primavera Saúde (SE).

O evento foi mediado pela gerente de relacionamento com o mercado da S.O.S. Vida, Fernanda Gama, e transmitido ao vivo no YouTube e Facebook.

Assista ao vídeo do debate completo.

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