Equipamentos especiais facilitam o banho de mar para pessoas com dificuldade de locomoção

Pessoas com dificuldade de locomoção de Salvador deram, mais uma vez, prova de força de vontade e superação durante o Projeto Para a Praia, realizado no último sábado, dia 23 de fevereiro, nas águas mornas e tranquilas de Ondina.

Auxiliados por profissionais da área de saúde, familiares e voluntários, eles usaram equipamentos especiais para tomar o banho de mar. Quem chega ao local, seja de ambulância ou levado por algum familiar ou amigo, encontra logo um piso tátil sobre a areia, todo feito de borracha, que facilita a locomoção das cadeiras de rodas.

O projeto disponibiliza ainda boias para permitir a flutuação e macarrões de espuma, que servem para dar estabilidade ao troco durante o banho, além de manter o participante confortável na água. Por fim, o grande diferencial do projeto: a cadeira anfíbia, que possui grandes rodas de plástico para garantir o acesso ao mar.

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PACIENTES DE HOME CARE PARTICIPAM DO PROJETO

Pacientes da S.O.S. Vida mais uma vez se fizeram presentes ao projeto, já pelo terceiro ano seguido. Dessa vez foram quatro, acompanhados de familiares e da equipe multidisciplinar, sempre participativa. Para preservar a identidade dos pacientes, vamos usar apenas as iniciais de seus nomes.

O primeiro a chegar foi M.R.A., que foi ao Para a Praia pela segunda vez. Os familiares ficaram muito felizes, pois no ano passado ele só molhou os pés, mas dessa vez a água foi até o quadril.

A paciente T.M.B.C. também era só felicidade. Com um bonito chapéu e óculos escuros, ela estava bem animada para o banho de mar. Sua filha, que a acompanhava, disse que a mãe estava realizando um sonho, pois desde que teve um AVC isquêmico há oito anos, ela ainda não tinha tomado banho de mar em Salvador. “É uma iniciativa maravilhosa da S.O.S. Vida proporcionar essa experiência à minha mãe. Espero que tenha mais vezes”, disse a filha.

Outra paciente que estava feliz por tomar banho de mar foi M.N.N., que estava acompanhada dos filhos e outros familiares. Segundo N.N.S, um de seus cinco filhos, a mãe estava na expectativa de ir à praia desde quinta-feira. Foi a primeira vez que ela foi ao mar, desde que foi diagnosticada com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA).

“A SOS Vida está de parabéns por proporcionar esse dia fantástico para a minha mãe. Agradeço a Deus e a toda essa equipe maravilhosa”.

A filha da paciente N.M.B.C. também agradeceu muito à S.O.S. Vida pelo momento. A mãe teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) em 2016 e desde então ela não tinha voltado à praia. “É uma excelente iniciativa essa de reinserir os pacientes na sociedade”.

INCLUSÃO E CUIDADOS

A médica da S.O.S. Vida Patrícia Bagano, que acompanhou todos os pacientes no banho de mar, também estava satisfeita com a ação. Segundo ela, com o envelhecimento da população e o avanço da tecnologia o número de paciente acompanhados em domicílio só aumenta. “Esse projeto é uma proposta maravilhosa, que os tira da rotina do lar, trazendo-os para um ambiente novo. Uma oportunidade para eles e também para a equipe de saúde que os acompanham”.

Essa ação na praia faz parte da filosofia da S.O.S. Vida de cuidar de seus pacientes de forma integral, buscando inseri-los nas atividades normais do dia a dia. Outras iniciativas similares já foram realizadas, como levar pacientes para assistir a uma partida de futebol no estádio ou para a igreja.

Essa atividade, além de saudável, integra familiares, pacientes e os profissionais de saúde, garantindo assim diversos benefícios, como socialização e desenvolvimento motor e intelectual, além de melhorar a autoestima.

A supervisora de fisioterapia da S.O.S. Vida, Andréa Couto, destacou que todo evento é diferente, pois cada paciente tem uma história própria e vê-los felizes na praia é muito gratificante. “Só tenho a agradecer às famílias pelo apoio e também à parceria com a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública”, disse a fisioterapeuta, que aproveitou para agradecer toda a equipe multidisciplinar da S.O.S. Vida (formada por médicos, enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas e Serviço Social,), todos envolvidos nessa ação.

PROJETO PARA PARA PRAIA

A professora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e fisioterapeuta Luciana Oliveira Rangel Pinheiro coordena a equipe de voluntários do projeto Para a Praia. Ela conta que já é a sexta edição, realizada sempre no verão, nos meses de janeiro e fevereiro. Sem contar com o último sábado, já foram mais de 1.500 banhos.

Ela informa que os voluntários são da própria faculdade e também de outras instituições de ensino. O interessante é que pessoas que não são da área médica que assistem ou leem as reportagens, nos procuram para serem voluntários”.

Geralmente são cerca de 50 voluntários por dia, que são divididos por tarefas. Luciana informa que o curso de fisioterapia que começou esse trabalho e até hoje é quem organiza tudo, mas participam pessoas de outros cursos, como biomedicina, odontologia, enfermagem, educação física, medicina e outros.

Ela explica que o Projeto é uma parceria Público Privada com a Secretaria Municipal da Cidade Sustentável. Luciana acredita que a reabilitação não deve se limitar a exercícios em casa, mas o indivíduo deve ser preparado para voltar à vida normal.

Luciana destaca que esse projeto existe em outros locais, mas o de Salvador tem uma particularidade. Nas outras cidades, como a equipe de voluntários não é da área de saúde, geralmente o perfil de banhistas não tem uma mobilidade tão reduzida. “Aqui temos banhistas muito mais graves em termos de mobilidade”.

Ela destaca a parceria da S.O.S. Vida, “que tem também essa visão diferenciada da reabilitação e começou a trazer pacientes mais graves, inclusive com ventilação mecânica, para tomar banho de mar”.