11 de maio de 2021
Lidando com a solidão em meio à pandemia
A pandemia causada pelo Coronavírus fez aumentar entre os brasileiros o sentimento de solidão. De acordo com pesquisa feita pelo Instituto IPSOS, somos os mais solitários do mundo entre povos de 28 países.
Segundo o levantamento realizado entre 23 de dezembro do ano passado e 8 de janeiro deste ano, 50% das mil pessoas entrevistadas no Brasil disseram sentir solidão “muitas vezes”, “frequentemente” ou “sempre”. Em segundo lugar vieram os turcos, com 46% e, na outra ponta do ranking, os holandeses são o povo que menos sofre de solidão (15%).
O brasileiro versus o distanciamento social
De acordo com a psicóloga da S.O.S. Vida, Cláudia Cruz, a pandemia tem relação direta com esses números, pois somos um povo gregário, que valoriza o toque, o contato, o abraço. E o distanciamento social, preconizado como medida de combate à transmissão do vírus,
Apesar de pesquisa indicar que o brasileiro se sente só, existem formas de contornar essa condição acaba entrando em confronto com essa cultura da experiência social, gerando sofrimento psíquico. Realmente, segundo o levantamento, 52% dos participantes da pesquisa no Brasil afirmaram que esse sentimento de solidão cresceu nos últimos seis meses.
Os pacientes internados em Home Care também têm sofrido com o isolamento social. Cláudia Cruz destaca que, pela característica desse tipo de internamento, os indivíduos já ficam mais restritos e com a pandemia a maioria dos familiares deixou de fazer visitas.
“O cuidador fica mais sobrecarregado, com pouco tempo para si e sem uma rede de apoio para compartilhar os cuidados, podendo assim se sentir também solitário”.
A psicóloga lembra que a solidão não está condicionada a estar só.
“Existem pessoas que convivem bem com o estar só, mantêm conexão com o mundo e priorizam o autoconhecimento. No entanto, quando o estar só gera o sentimento de solidão, o rompimento de vinculação, ausência de pertencimento com o mundo e com os outros e a consequente dificuldade para sentir identificação com o meio e com quem está ao seu redor, pode-se dizer que a pessoa se sente solitária”.
Estar sozinho ou estar solitário?
A também psicóloga da S.O.S. Vida, Gabriela Oliveira, completa explicando que a solidão não tem relação direta com estar sozinho.
“É possível se sentir sozinho mesmo acompanhado de outras pessoas. A pessoa precisa entender o que é que a preenche, o que realmente importa para ela. Porque outras coisas mal resolvidas internamente podem gerar esse sentimento de solidão e causar sofrimento psíquico”.
“Solidão é não estar conectado”, afirma Cláudia Cruz, destacando que o paciente pode até ter uma família grande, mas se ela não participar e isolá-lo no quarto ele pode se sentir solitário. Hoje em dia, com as famílias reduzidas e as pessoas precisando sair para trabalhar, a circulação nas residências é cada vez menor e isso contribui para o sentimento de solidão que muitos pacientes relatam.
Alguns sintomas para identificar um quadro de solidão: o indivíduo fica retraído, desinteressado pelo contato, apresenta sentimento de inutilidade, sentimento de rejeição, desânimo, entre outros.
Cláudia lembra que a solidão pode ser um sintoma de depressão, mas nem todas as pessoas que se sentem solitárias têm quadro depressivo.
“O diagnóstico diferencial se faz necessário para a adequação da conduta e diminuição de riscos de agravamento da situação. Um quadro depressivo, por exemplo, se caracteriza pela intensidade e periodicidade maior de sintomas que comprometem a rotina e funcionalidade do indivíduo”.
A psicóloga acredita que nesses casos o indicado é buscar ajuda de um profissional especializado em saúde mental.
“O paciente, muitas vezes, não percebe a gravidade do problema e assim não busca suporte profissional a tempo de evitar o agravamento dos sintomas”.
Como enfrentar a solidão?
Para finalizar, Cláudia destaca algumas dicas que podem ajudar no enfrentamento da solidão. Primeiro, busque ajuda, uma rede de apoio através de um familiar, amigo, alguém que confie. A troca com o outro gera sentimento de pertencimento a um grupo social e a troca de experiência ajuda a não se sentir solitário no processo.
Ela destaca ainda que o isolamento social necessário devido à pandemia não precisa ser psicológico, uma vez que é possível manter conexão com o outro mesmo que exista o distanciamento físico. “A tecnologia pode ser uma aliada para encurtar distâncias e promover encontros de forma segura”.
É possível construir uma rotina saudável, incluindo atividades lúdicas e criativas, fazendo atividades físicas. Caso a pessoa sinta um grau de dificuldade maior, deve buscar ajuda de um profissional da área da saúde mental. Este poderá ajudar com condutas individualizadas e assertivas para diminuir danos psíquicos.
“Por fim, procure a opção que melhor se adapte às suas necessidades e gostos, sem perder de vista que toda situação desafiadora é potencialmente transformadora!”