17 de abril de 2021

Prevenção é o único remédio eficaz para a Covid-19 | Semana do Cuidado

O coronavírus é transmitido pelo ar? Posso pegar Covid-19 por tocar um objeto que alguém contaminado teve contato?  A vacina para coronavírus deve ser disponibilizada ainda este ano? Essas são apenas algumas das muitas perguntas sobre o tema que se tornou o mais comentado no mundo todo desde o começo do ano.

As respostas ainda são poucas e conflitantes, pois, embora muitas sejam as pesquisas, se sabe pouco sobre o coronavírus. Isso aumenta o cenário de insegurança e desinformação em relação à pandemia, e os únicos remédios até o momento são a informação e a prevenção.

Para colaborar no esclarecimento sobre a doença, a médica infectologista da S.O.S. Vida, Monique Lírio, abordou o tema “O que sabemos sobre a Covid-19”, durante a Semana do Cuidado na Atenção Domiciliar.

Em termos de tratamentos e vacinas para o vírus, temos muitas perspectivas e pesquisas em andamento, mas que ainda estão sendo testadas e há um caminho pela frente até que seus resultados sejam comprovados. Por tanto, a prevenção ainda é fundamental e a principal maneira de se proteger.

Então, as dicas são: manter as recomendações de lavar as mãos frequentemente, não tocar o rosto, usar o cotovelo para cobrir o rosto ao espirrar, manter distanciamento e, se possível, não sair de casa. Se precisar sair, usar a máscara”, resumiu a médica.  

Assista à palestra completa.

Origem da pandemia

O coronavírus foi identificado inicialmente na China e tem carga genética próxima a um vírus procedente do morcego. É de uma família que já causou outras infecções respiratórias em animais e humanos, como a Síndrome respiratória aguda grave (SARS) e a Síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS). O que mudou, é que este vírus se espalha de forma muita rápida e a evolução de quadros graves pode ser arrastada, precisando de longos períodos de internação.

“Dessa forma, temos o risco de lotação de leitos hospitalares, em especial as Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), podendo causar o colapso do sistema de saúde e não haver leitos para todos que necessitam”, detalhou Monique.

Transmissão e cuidados

A transmissão acontece de uma pessoa doente para outra ou através do contato próximo.

“Por exemplo, se uma pessoa que está com o vírus espirra perto de uma superfície e caem gotículas de saliva nela, outra pessoa que tocar no local e levar a mão aos olhos, boca ou nariz, pode se contaminar”, lembrou a infectologista.

Por isso, é importante enfatizar os cuidados já disseminados pelas entidades mundiais de saúde, como o distanciamento entre as pessoas, o uso de máscara, evitar aglomerações e ter cuidado com as superfícies, fazendo a correta higienização.

A infectologista salientou que 80% dos casos da doença são leves, 15% são graves e 5% dos pacientes desenvolvem a forma muito grave.

Sintomas da Covid-19

O coronavírus tem sintomas comuns e incomuns. Os que mais ocorrem são: febre, tosse, e fadiga.

Já entre os sintomas mais raros estão dor de cabeça, congestão nasal, dor ao engolir, tosse produtiva, falta de ar, dor muscular, calafrios, náuseas ou vômitos, diarreia e perda do paladar e do olfato.

Monique acrescentou que nos casos graves da doença pode ocorrer febre alta, sangramento pulmonar, linfopenia e insuficiência renal. O que determina a gravidade é a resposta do sistema imune ao vírus.

Evolução da doença

A doença é dividida em duas fases e, na inicial – que dura em torno de cinco dias – começam os sintomas leves. Entre 7 e 10 dias com o vírus, o sistema imune começa a funcionar de uma forma mais importante para responder à doença.

“Se a reposta for eficaz, a pessoa melhora. Se não, ela evolui para quadros mais graves. Embora os efeitos mais agravados da doença apareçam com mais frequência no sistema respiratório, já sabemos que o coronavírus não afeta só o pulmão, mas também o sistema cardiovascular, gastrointestinal, os rins e o sistema de coagulação”, pontuou Monique.

A taxa de mortalidade do vírus em crianças e adolescentes é de 0,2%; em jovens de 20 a 59 anos é de 0,4% a 1,3%; em indivíduos de 60 a 79 anos, de 3,6% a 8%.

Nos idosos com mais de 80 sobe para 14,8%. Pessoas com doenças crônicas cardiovasculares, respiratórias, obesidade e diabetes também são grupo de risco para desenvolver os quadros mais graves.

Diagnóstico da Covid-19

Existem diferentes exames para realizar o diagnóstico sobre o contato com o coronavírus e, segundo Monique, o mais adequado deve ser indicada pelo médico de acordo com critérios como o tempo de apresentação dos sintomas, para evitar falsos negativos.

ORT-PCR faz a confirmação através da detecção de uma partícula do vírus na amostra analisada. É usado no início dos sintomas, pois, a partir do 10º dia de infecção, a quantidade de RNA do vírus tende a diminuir.

“Ou seja, o teste RT-PCR identifica o vírus no período em que está ativo no organismo, tornando possível aplicar a conduta médica apropriada: internação, isolamento social ou outro procedimento pertinente para o caso em questão”, completou.

A sorologia e testes rápidos identificam a resposta imunológica do corpo em relação ao vírus, que começa a acontecer a partir do 7º dia, por isso é importante o momento de fazer, pois, se feito no começo dos sintomas, não vai dicar a infecção pelo vírus.

Tratamentos para a Covid-19

Embora haja muita pesquisa em andamento para se encontrar um tratamento para a Covid-19, em especial nos seus quadros mais graves, a infectologista informa que nenhum fármaco está aprovado para tratamento ou prevenção ainda.

“Tudo o que temos está em fase de teste. Se uma pessoa vai usar, tem que ser dentro de um protocolo de pesquisa, com termo de consentimento, com um médico indicando os riscos e os benefícios. O uso deve ser limitado a esse contexto de pesquisa, porque todo tratamento tem efeitos colaterais”, enfatizou a especialista.

Ela abordou os principais tratamentos que já foram ou estão sendo testados no momento, destacando que o início das pesquisas sobre medicamentos para o combate ao vírus é feito fora do corpo humano, in vitro. Ou seja, a repercussão pode ser muito diferente quando se parte para a testagem em humanos.

Em relação à hidroxicloroquina e à cloroquina, a médica explicou que o tratamento experimental com estas medicações ganhou força após um estudo francês não controlado, que mostrou uma negativação de PCR com o uso da substância.

“Como foi um estudo pequeno, foi importante para gerar hipóteses, mas insuficiente para indicar a utilização terapêutica das medicações. Depois disso, um levantamento maior feito em Nova Iorque acompanhou pacientes que tomaram e que não tomaram, e não mostrou diferença na evolução da doença, mas indicou uma taxa de parada cardíaca maior para quem tomou. Já um estudo brasileiro que acompanhou pacientes que receberam doses diferentes da medicação em combinação com antivirais foi suspenso em função da alta taxa de mortalidade entre os pacientes que receberam a cloroquina. Hoje a recomendação é contra o uso ou que não há evidência de eficácia”, relatou.  

Em relação à ivermectina, outra medicação que vem sendo usada até mesmo sem indicação médica, Monique apontou que no estudo in vitro ela apresentou efeito na inibição do vírus, porém, mesmo neste ensaio, a dose necessária seria tóxica para uso humano.  

“A droga pode ter um efeito neuro tóxico que normalmente não se manifesta nas pessoas devido à integridade da barreira hematoencefálica, que pode estar comprometida nos pacientes com Covid-19, então o uso pode piorar o estado inflamatório”, advertiu.

No único ensaio clínico feito até agora com a ivermectina, o uso indicou menor mortalidade entre os pacientes que utilizaram, mas esse estudo ainda não passou por uma revisão, o que é uma etapa importante para que se identifique possíveis erros metodológicos, alertou a especialista.

“Em relação a essa medicação, as principais instituições de saúde não recomendaram nem contra nem a favor. É importante, porém, destacar que não existe nenhuma indicação do uso do remédio como forma de prevenir a doença”, completou.

Outra medicação que está sendo testada é o remdesir, ainda não disponível no Brasil. Ela foi aprovada emergencialmente, depois que um estudo preliminar mostrou que reduziu o tempo de recuperação de 15 para 11 dias. Porém, um segundo ensaio não indicou esse mesmo resultado.

“Um terceiro estudo apontou melhora clínica em 68% dos pacientes testados, com Covid em fase grave. Porém, foi um estudo não randomizado, sem a análise de um grupo que recebeu placebo, que é super importante para comparar os efeitos nos dois grupos. Estes resultados não querem dizer que o remédio é eficaz, pois a hidroxicloriquina, por exemplo, foi aprovada no começo a depois descartada como tratamento”, salientou Monique.   

Uma medicação que vem sendo usada é a dexametasona, um corticoide que, em estudo, mostrou melhora no desfecho para pacientes que estão com dificuldade respiratória, com necessidade de oxigênio ou ventilação mecânica. Não há, porém, indicação de melhora em quadros não graves, e pacientes que não precisaram de internação não foram objetos do estudo.

“Os corticóides têm efeitos colaterais, então é importante alertar que as pessoas não devem tomar esses remédios sem orientação médica”, reiterou a médica.

Por fim, estão em teste os anticoagulantes, pois há dois trabalhos mostrando maior risco de trombose em pacientes com quadros mais graves de Covid-19, por isso essas medicações podem ser empregadas. Para casos leves, isso não se aplica e menos ainda como prevenção.

“O que gostaria de enfatizar sobre tratamento é que apesar de não termos ainda um tratamento testado e aprovado para o vírus, os nossos resultados não têm sido ruins. Para pacientes com gravidade, o suporte clínico é importantíssimo. Por isso que é preciso achatar a curva de contaminação, para que todos possam receber o tratamento, pois é isso que vai fazer diferença no desfecho”, completou Monique.

Leia também: Infectologistas contraindicam uso da Ivermectina ou outros medicamentos para combater Covid-19

Vacina

Atualmente há mais de 140 vacinas para coronavírus candidatas cadastradas na OMS e 13 delas estão em fase clínica de testes em humanos no mundo. Monique Lírio destacou em sua palestra as duas vacinas que têm sido mais citadas no Brasil.

vacina da Universidade Oxford, no Reino Unido, em parceria com a empresa AstraZeneca é uma das que está em estágio mais avançado no mundo. Ao todo 50 mil pessoas serão testadas, sendo que 5 mil candidatos estão no Brasil. É considerada uma vacina moderna e segura, pois não utiliza o vírus e sim uma sequência genética.

“Ela vai ser testada primeiro em pessoas fora dos grupos de risco, e depois nos grupos de risco, ou seja, não ficará disponível nos próximos meses”, explicou a médica.  

vacina Butantan, de um laboratório da China, está na fase 3 e utiliza a técnica do vírus inativado para gerar anticorpos. A eficácia ainda depende do ajuste de dose da vacina e outros fatores que precisam ser testados e comprovados clinicamente.

[Atualização – janeiro/2021]

A vacinação contra Covid-19 está em curso em todos os estados brasileiros, o que é um importante passo para o enfrentamento da pandemia causada pelo novo coronavírus.

Para que se possa sair do cenário que só se agrava no País desde março de 2020, é preciso ter a consciência de que o início da vacinação é apenas o passo de um longo caminho.

Naturalmente, várias dúvidas sobre a vacina surgiram. Os infectologistas Monique Lírio e Matheus Todt ajudaram a esclarecer os principais pontos sobre o tema. Confira a matéria: Covid-19 – tire suas dúvidas sobre a vacinação

Alerta

A infectologista respondeu perguntas sobre o tema, e salientou os riscos da auto medicação e do uso de tratamentos não comprovadamente eficazes.

“A cada notícia que surge sobre perspectiva de tratamento, vemos muitas pessoas correndo para as farmácias, mas os estudos são iniciais, e nem sempre o que se observa na fase in vitro se confirma na fase em humanos, então as pessoas não devem se automedicar e também precisam saber que não existe nenhuma indicação de uso de ivermectina ou outra medicação como prevenção para a doença”, reforçou.   

Flexibilização

Nas últimas semanas, Salvador deu início ao processo de flexibilização da suspensão das atividades comerciais. Monique Lírio opinou que, nesse contexto de pandemia, nenhuma decisão é fácil, mas que na cidade foram tomadas as medidas para que a curva de contaminação fosse achatada, o que evitou um cenário de superlotação dos UTIs.

“Vejo que é positivo o fato de que a flexibilização está sendo baseada na disponibilidade de leitos, o que reduz o risco de colapso. Penso, porém, que não se pode passar apenas para o governo uma responsabilidade que é própria. Os cuidados devem continuar e as pessoas devem seguir evitando aglomerações e saídas desnecessárias”, argumentou.

Outras dúvidas

Monique esclareceu ainda que o coronavírus pode ser transmitido pelo ar principalmente através de gotículas que são expelidas ao falar, tossir e espirrar.

“Ainda não está claro se o vírus pode ser transmitido como aerossol, que são aquelas partículas menores que ficam no ar. Em relação ao tempo de permanência no ar, as gotículas ficam poucos minutos, mas o aerossol pode durar algumas horas”.

Sobre os riscos para os voluntários que irão tomar as vacinas em teste, destacou que toda vacina pode ter efeitos colaterais e contraindicações.

“No momento não está se testando em nenhum grupo de risco exatamente por isso. É uma vacina que parece ser mais segura, mas sempre há possibilidade de efeitos colaterais”, detalhou.

Outro alerta foi sobre os pacientes em home care.

“É uma população de risco, normalmente idosos e com comorbidades, então é preciso cuidados extras evitando receber visitas e mantendo o isolamento caso alguém esteja doente em casa”, disse a especialista.

Outra dúvida foi sobre atividades ao ar livre, ao que a infectologista apontou que há menos risco, mas se as pessoas estiverem aglomeradas, ainda assim ocorre a contaminação.

Semana do Cuidado na Atenção Domiciliar

Com o objetivo de colaborar na disponibilização de informações de qualidade sobre como o cenário da pandemia de Covid-19 pode impactar a saúde de diversas formas, a S.O.S. Vida promoveu a Semana do Cuidado na Atenção Domiciliar, entre 13 e 17 de julho, com palestras de infectologistas, nutricionista, psicólogas e médicos.

Entre os temas, foram debatidos mitos e verdades sobre a Covid-19; manutenção de hábitos saudáveis e de uma alimentação equilibrada para reforçar o sistema imunológico;  como diferenciar Covid de outras doenças respiratórias e quando procurar a emergência; cuidados com a saúde mental e como lidar com as emoções conflitantes comuns no momento atual.

As palestras estão disponíveis no canal do YouTube da S.O.S. Vida (https://www.youtube.com/sosvida).

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