20 de abril de 2022
Ortotanásia: entenda o que são as Diretivas Antecipadas de Vontade
Morte digna: ortotanásia limita intervenções invasivas em pacientes com doenças sem condição de cura. Eutanásia, procedimento solicitado pelo ator francês Alain Delon na Suíça, é considerado crime no Brasil
O ator francês Alain Delon, 86 anos, decidiu interromper sua vida de forma voluntário e pediu que o seu filho, o também ator Anthony Delon, o ajudasse a organizar sua eutanásia. Permitida na Suíça, onde Delon mora, essa prática é considerada crime no Brasil. No entanto, brasileiros com doenças terminais podem recorrer a ortotanásia para evitar que sejam submetidos a intervenções médicas que visam apenas adiar a morte, mesmo comprometendo a qualidade de vida dos pacientes.
Essa iniciativa é prevista pelo Conselho Federal de Medicina, que nomeou essa prática como “Diretivas Antecipadas de Vontade”, onde o paciente pode registrar sua decisão de não ser submetido à procedimentos invasivos para adiar sua morte. Essa iniciativa é prevista pelo Conselho Federal de Medicina, que nomeou essa prática como “Diretivas Antecipadas de Vontade”.
Para a coordenadora médica da S.O.S. Vida de Salvador, Ana Rosa Humia, a morte, como um processo natural da vida, pode ser mais humana.
“A medicina tradicional foco na cura, mas há casos em que tratamentos terapêuticos não são capazes de reverter o quadro de pacientes com doenças crônicas e sem condições de cura. Nessas situações, algumas intervenções podem prolongar a sua vida, mas lhe causando mais dor”, explica, acrescentando que a partir de uma abordagem de Cuidados Paliativos, os pacientes podem ter um fim de vida com menos sofrimento, mais humanizado.
“Muitas vezes, eles podem ter condições de voltar para casa, estar no seio da família. Para eles, esse momento pode ser muito mais significativo do que prolongar a sobrevida sem qualidade”, pontua.
Leia também: Ortotanásia e a morte natural para pacientes com doença terminal
Os Cuidados Paliativos são intervenções médicas, preconizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), com o intuito de controlar a dor e outros sintomas em pacientes com doenças sem condições de cura. O objetivo é melhorar a qualidade de vida dentro das limitações impostas pela doença, proporcionando mais bem-estar para o paciente e seus familiares.
Nesse momento, o suporte de uma equipe multidisciplinar é fundamental, prevendo intervenções físicas, psicológicas, sociais e espirituais para todo grupo familiar. A psicóloga da S.O.S. Vida Cláudia Cruz ressalta a importância do acolhimento e escuta de quem tem uma doença terminal e de seus familiares.
“O suporte psicológico ajuda a lidar com o sofrimento, para entender que a morte é um processo natural da vida. Mas que é possível ressignificar esse momento, focando na vida e pensando o que eu gostaria de fazer nesse tempo”, pondera.
Personagem de Antônio Fagundes na novela Bom Sucesso propõe discussão sobre finitude da vida e direito do paciente terminal de definir como quer morrer
Falar da morte é um tabu em muitas culturas, inclusive na brasileira, que evita pensar no processo de finitude da vida. Contudo, o assunto ganhou notoriedade ao ser abordado ao longo da novela Bom Sucesso, da Rede Globo, por meio da história do personagem interpretado por Antônio Fagundes, que tem uma doença terminal. Os últimos capítulos levantaram um novo viés sobre o tema: a ortotanásia.
Leia a matéria completa: Ortotanásia: prática limita intervenção médica em busca de morte natural e digna
Sem querer prolongar seus últimos dias com sofrimento, Alberto cogitou fazer a eutanásia – quando se mata um paciente por compaixão -, mas como o procedimento é proibido no Brasil, seu advogado, vivido pelo ator Eduardo Galvão, apresentou a possibilidade dele fazer uma declaração de ortotanásia. Nesta, ele deixaria clara sua decisão de não ser submetido à procedimentos invasivos para adiar sua morte, mesmo comprometendo sua qualidade de vida.
Apoio psicológico
A psicóloga da S.O.S. Vida Cláudia Cruz explica que é importante que a pessoa com uma doença terminal e sua família tenham um momento de escuta e acolhimento, auxiliando no processo de avaliação da sua vivência.
“O suporte psicológico ajuda a lidar com o sofrimento, para entender que a morte é um processo natural da vida. Mas que é possível ressignificar esse momento, focando na vida e pensando o que eu gostaria de fazer nesse tempo”, pondera.
Desta forma, os pacientes têm a oportunidade de resolver pendências e avaliar como querem passar os últimos dias de sua vida. Também há espaço para o luto antecipatório da família, que vivencia perdas diárias e necessita de suporte para lidar com esse momento.