17 de abril de 2021
Hospital e Home Care: Webinar debate a integração de cuidados

O atual cenário brasileiro de aumento de casos de pessoas contaminadas pela COVID-19 tem exigido das instituições de saúde novos protocolos e estratégias para combater a doença.
A integração entre os hospitais e empresas home care é uma saída para facilitar a desospitalização e assim liberar leitos para as vítimas do novo coronavírus.
Para discutir o tema, a S.O.S. Vida promoveu nesta quarta-feira, dia 17, um webinar transmitido ao vivo pelo YouTube e pela plataforma no Facebook, com as participações do hepatologista Raymundo Paraná, superintendente médico do Hospital Aliança, e Mateus Assis, coordenador médico da S.O.S. Vida (SE). O debate foi moderado por Fernanda Gama, enfermeira e gerente de relacionamento com o mercado da S.O.S. Vida (BA).
O debate rendeu uma rica discussão sobre a atuação integrada entre hospitais e home care e o público pôde participar, enviando perguntas que foram respondidas no final pelos especialistas.
Assista ao debate “Hospital e Home Care: Integração do Cuidado em Tempos de COVID-19”
Medidas para lidar com a pandemia
Durante sua explanação inicial, Dr. Paraná destacou que o Hospital Aliança criou protocolos, em conjunto com os convênios de saúde, com o objetivo de encaminhar pacientes para o home care de forma ágil e segura. Ele citou um episódio em que foram liberados seis pacientes para home care em 24 horas, sendo que normalmente esse trâmite demoraria até quatro dias. “O hospital não tinha mais condições de oferecer ao paciente nada melhor do que o home care poderia fazer”, destacou o médico, enfatizando que essa medida permitiu desocupar leitos de UTI.

Paralelamente, o hospital criou unidades separadas para atender pacientes Covid e não-Covid, além de adaptar a telemedicina para monitorar os pacientes diariamente. Perguntado sobre como foi a preparação do hospital para a crise, o superintendente do Aliança disse que o processo começou em fevereiro, com a montagem de um comitê multidisciplinar, envolvendo o pessoal da assistência e a equipe operacional (como nutrição e suprimentos).
Foi criada também uma rede de contatos com hospitais referências do Brasil e de outros países, como França, Argentina e Estados Unidos, onde se colheu informações do que estava se passando por lá. “Paralelamente, buscamos rapidamente realizar a compra de equipamentos, EPIs e medicamentos”.
A instituição desenvolveu também um sistema de navegação, específico para os pacientes inseridos no protocolo de Covid, que consistiu no acompanhamento desses pacientes por um grupo de médico e enfermeiros, quando confirmada a infecção por Covid-19.
Esses pacientes eram encaminhados para suas casas e passavam a ser monitorados diariamente por uma enfermeira do hospital, responsável por telefonar e colher informações clínicas de cada paciente. A depender das respostas obtidas, um médico infectologista poderia ser acionado para conversar com esse paciente.
“Isso fez com que tivéssemos em torno de 500 pacientes monitorizados em casa, e apenas 31 retornaram ao hospital. Significa uma taxa de conversão inferior a 5% […]. Isso ajudou bastante porque não superlotou o hospital.
Boa parte das internações hospitalares se deve ao paciente inseguro em casa, sem ter um acompanhamento médico mais próximo, sem ter confiança na instituição e ele retorna frequentemente porque tem medo de desenvolver uma forma grave da doença em casa e, quando ele retorna, ele reluta em voltar para casa e o próprio médico também; já é um retorno do paciente, uma segunda, uma terceira vez, a tendência do médico é, também, indicar a internação. Com isso conseguimos segurar a porta de entrada bem, dando segurança ao paciente”.
Dr. Mateus, por sua vez, lembrou que a S.O.S. Vida também criou um comitê de crise para definir os novos protocolos de segurança. Foi feito ainda um provisionamento de material e criado um plano de contingência, revisado periodicamente. “Logo no início da crise, houve um grande número de desospitalizações e conseguimos manter esses pacientes em casa com monitoramento contínuo”.
O médico da S.OS. Vida lembrou ainda que, graças a esses protocolos, o índice de contaminação dos pacientes é muito baixo. Além disso, foi feito um reforço na proteção dos colaboradores e orientação aos familiares e pacientes sobre o novo cenário.
Na pergunta seguinte, Fernanda Gama reforçou a importância da sincronia e integração de informações entre o hospital e o home care.
Para Dr. Mateus essa integração de informações é essencial para que o home care possa dar continuidade ao cuidado do paciente em casa.
A gente tenta desospitalizar esse paciente mais precoce, para atender com celeridade essa necessidade que o hospital tem da rotatividade [de leitos], especialmente nesse momento de Covid. Outra coisa que é essencial, é a integração das informações. O home care tem um vínculo muito forte com o hospital para que a gente tenha uma continuidade do cuidado em casa“, explica o médico.
O médico defende que home care deverá ganhar mais espaço dos próximos anos, juntamente com o médico de família e o atendimento domiciliar. Ele aponta, porém, que o ambiente hospitalar não perderá a sua importância no sistema de saúde.
“Sempre vai existir a necessidade de um atendimento hospitalar em algum momento, durante a evolução do quadro de algum doente. Mas essa gerência do cuidado em casa, de menor custo para as operadoras de saúde, talvez vai impactar em até um menor preço dos planos de saúde que são tão caros” completou o especialista.
Desinformação
Na sequência, Dr. Paraná lembrou que pacientes não-Covid desapareceram do hospital e só agora estão voltando, mesmo assim somente aqueles com patologias mais graves. Ele atribui isso à desinformação generalizada sobre o assunto, o que gerou um temor da população em procurar as unidades de saúde.
Outro problema da área apontado pelo superintendente diz respeito à desvalorização do médico de família, que no passado era muito importante e hoje está esquecido. “O nosso modelo de remuneração não privilegia o saber médico”, disse Dr. Paraná, reforçando que hoje os profissionais pedem muitos exames e não fazem o devido raciocínio clínico. “A medicina é como a vida: quem não sabe o que procura, não valoriza o que encontra”. Para ele, cerca de 70% das demandas de saúde hoje seriam resolvidas por um bom médico no sistema básico de saúde.
A última questão abordada por Fernanda Gama foi sobre o chamado “novo normal”. Para Dr. Paraná ele não é tão novo assim. “Estamos aprendendo a fazer o que já é comum em outros países, como o hábito de usar máscara no transporte público, já praticado há muito tempo nos países orientais”.
O superintendente do Aliança lembrou ainda que depois dessa pandemia as pessoas vão aprender a higienizar melhor as mãos. Além disso, o uso da tecnologia será mais comum para a troca de informações e realização de congressos virtuais. Destacou também a telemedicina, que não vai substituir a consulta presencial, mas pode ser útil, por exemplo, para o acompanhamento de vacinas e conciliação de medicamentos, evitando que os pacientes procurem os hospitais desnecessariamente.
Dr. Mateus reforçou a opinião do colega, acentuando que antes era comum encontrar profissionais de saúde resistentes a higienizar as mãos e hoje esse cenário mudou. Ele acredita que os índices de infecção vão cair depois dessa pandemia. Dr. Mateus lembrou ainda a orientação que a S.O.S. Vida dá às famílias sobre esse assunto.
“Esse é o novo normal? Não, é o velho normal e que agora estamos vendo a sua real importância. E tomara que isso se perpetue entre os profissionais de saúde, quanto a higiene das mãos antes de tocar no seu paciente, após você tocar no seu paciente, quando você for fazer algum procedimento no seu paciente. Sem sombra de dúvida, esse é o principal método de prevenção de infecção em qualquer lugar do mundo”, afirma o coordenador médico.

Dr. Mateus também acredita que a telemedicina veio para ficar e as instituições que valorizam a inovação, como o Hospital Aliança e a S.O.S. Vida, já saíram na frente, não só em relação a esse assunto, mas também sobre o telemonitoramento.
Respondendo às perguntas
Na parte de perguntas, um dos internautas abordou a questão do atendimento multiprofissional do home care e sua importância para manter os baixos índices de infecção dos pacientes. Dr. Mateus citou, por exemplo, a importância da fisioterapia na reabilitação da função pulmonar e reforçou o papel de cada profissional no cuidado dos pacientes.

Dr. Paraná respondeu a uma pergunta sobre o protocolo do hospital para a COVID-19. Disse que os profissionais do Aliança não compactuam com o achismo e nem com a falta de evidência científica na prescrição. “Nesse momento, na fase leve da doença, não existe medicamento que tenha a mínima indicação por evidência científica”.
Ao final, Fernanda Gama agradeceu a participação dos convidados e dos internautas, ressaltando que a Webinar está salva nas plataformas do Youtube e Facebook da S.O.S. Vida para quem quiser ver ou rever.