3 de agosto de 2021
Criar vínculos com a família é fundamental para comunicação em Cuidados Paliativos [vídeo]
O vínculo que a equipe de cuidados paliativos consegue estabelecer com a família e o paciente é fundamental para fortalecer a comunicação e garantir um atendimento adequado e assertivo.
Essa é a opinião da Dra. Ana Rosa Humia, coordenadora médica da S.O.S. Vida/BA, que participou nesta quinta-feira, 29, do webinar “Desafios atuais dos Cuidados Paliativos”.
O evento, promovido pela S.O.S. Vida e transmitido pelo YouTube, debateu as mudanças e contribuições da abordagem paliativista neste momento de pandemia. O webinar contou com a mediação da médica Marta Simone Sousa, gerente da S.O.S. Vida/SE e participação também dos médicos Vitor Carlos (AMO/BA) e Luana Brandão (Espaço Ativo/SE).
Dra. Ana Rosa ressaltou que esse vínculo ajuda na hora compartilhar as decisões com a família e aumenta as chances de o profissional ser bem compreendido na hora de comunicar, por exemplo, a perda de uma funcionalidade e mesmo a iminência da morte do indivíduo. Outra comunicação difícil diz respeito à suspensão de alguma terapêutica porque ela não traz mais benefício para o paciente.
“Quanto maior o vínculo com a equipe, melhor será essa comunicação”.
A médica disse ainda que antigamente o familiar ficava o tempo todo ao lado do paciente e com a COVID-19 ele teve que se afastar para evitar a contaminação. Isso trouxe complicações e coube ao profissional de cuidados paliativos lidar com essa questão, orientando sobre a melhor forma de estar próximo, mesmo que virtualmente.
A médica lembrou também que a S.O.S. Vida recebeu a certificação da Joint Commission International (JCI) para cuidados paliativos em outubro de 2019 e isso facilitou a adaptação quando a pandemia começou, em março do ano passado. “A empresa já estava com o programa bem atualizado e isso favoreceu algumas medidas”, disse a médica, reforçando que a S.O.S. Vida criou protocolos de atendimento para todos os pacientes, incluindo aqueles em cuidados paliativos.
Desafios atuais dos Cuidados Paliativos
Assista ao vídeo completo do webinar.
A busca pelo alívio do sofrimento
Na abertura do debate, Dra. Marta Simone lembrou que o alívio do sofrimento humano diante de uma situação inevitável é a essência dos profissionais que trabalham com cuidados paliativos.
“No entanto, vivemos um cenário de pandemia, uma ameaça que expôs nossas limitações como sociedade, forçando o sistema e, principalmente, os profissionais de saúde, ao máximo. Nesse contexto, os cuidados paliativos precisaram ser repensados diante da celeridade da pandemia”.
A Dra. Luana destacou a surpresa com a velocidade que a nova doença se propagou. “Dentro de cuidados paliativos a urgência maior foi começar a falar de finitude”.
Ela destacou que a S.O.S. Vida tinha pacientes com critério de cuidados paliativos que contraíram a COVID-19. “Como lidar com esses pacientes? Seriam ou não levados para o hospital?”
Na opinião de Dra. Luna, a falta de uma conversa sobre essa finitude nesses últimos dias de vida do indivíduo é o que pode dificultar a comunicação dos profissionais com as famílias. Segundo ela, foi preciso mudar a maneira de se comunicar.
“A falta do olho no olho também afetou essa comunicação, pois tivemos que realizar muitas reuniões com familiares de maneira on line”.
A médica destacou a importância do contato não-verbal e disse que num primeiro momento foi desafiador fazer reuniões remotas, mas o resultado foi proveitoso.
A urgência do cuidado
O médico Vítor Carlos destacou que a pandemia trouxe a necessidade da urgência do cuidado, do cuidar de si mesmo, da casa, do outro. “Precisamos nos reinventar durante esse processo, que continua sendo de pandemia”. Lembrou que a infecção por COVID-19 grave é generalizada, não é só pulmonar, causando uma série de sintomas, como delírio, aumento de secreção e falta de ar. Segundo ele, nesses casos, o controle de sintomas é urgente, assim como o acolhimento da família e a criação de parâmetros de elegibilidade para esses pacientes.
Dr. Vitor disse ainda que a escuta ativa é fundamental, assim como tentar entender o outro lado para tentar dar algum norte àquela situação que ameaça a vida. Ele falou da importância de manter a família sempre atualizada sobre o diagnóstico, informações de exames e de intervenções que foram feitas no paciente. Tudo isso gera um clima de confiança entre a equipe e os familiares.
Dra. Ana Rosa complementou dizendo que para além da parte técnica, é preciso às vezes abranger as diversas dimensões do paciente, como a espiritual e a psicológica. Nesse sentido, lembrou que a S.O.S. Vida promove sessões do programa “Cuidando de quem cuida” para que a equipe esteja preparada para essa abordagem.
Uma pergunta feita a todos os convidados foi o que aprendemos com a pandemia? Dra. Luana disse que o grande aprendizado foi a importância da equipe multidisciplinar em cuidados paliativos. Segundo ela, essa talvez seja das áreas da saúde onde o médico não é o ator principal, cada um tem seu valor.
“Em determinado momento, o fisioterapeuta pode ser mais importante para aliviar a dor que uma medicação, por exemplo”.
Dr. Vitor Carlos disse que é preciso cuidar de si para depois cuidar do outro. Deu exemplo de pequenas coisas, como valorizar o sabor dos alimentos, um dos sentidos que a COVID-19 afeta. “Essa pandemia veio para mostrar isso”.
Dra. Ana Rosa ressaltou a capacidade que o ser humano tem de se adaptar, buscar formas de melhorar. Ela acredita que a pandemia aumentou a solidariedade entre as pessoas. “O maior aprendizado foi a esperança”.
Ela disse que o aperfeiçoamento do cuidado a partir das mudanças causadas pela pandemia foi muito positivo para quem atua nessa área.
Três eixos principais dos Cuidados Paliativos
Cuidados Paliativos são uma prática multidisciplinar, que envolve médico, assistência em enfermagem, fisioterapia, psicologia, serviço social, entre outros. Baseia-se em três eixos principais: controle dos sintomas (principalmente a dor), qualidade de vida e medidas de conforto e dignidade.
Os princípios do humanitarismo e da imparcialidade exigem que todos os pacientes recebam cuidados e nunca devem ser abandonados por qualquer motivo, mesmo que estejam morrendo. As intervenções de cuidados paliativos podem acontecer em instituições de saúde ou no domicílio, com o apoio de serviços de home care.
O home care, realizado por uma equipe multiprofissional, pode proporcionar condições diferenciadas e específicas, seja proporcionando mais autonomia e privacidade ao paciente ou envolvendo familiares na tomada de decisões sobre o tratamento e aumentando o vínculo.