2 de agosto de 2021

Cuidados Paliativos em casa naturaliza processo de finitude e atenua sofrimento

Quando a tia do administrador Antônio Itamar da Silva estava no processo de finitude, em janeiro de 2020, ele optou por levá-la para casa. Como Maria Helena Romão, de 101 anos, já não tinha mais possibilidade de tratamento para a cura de sua doença, o ambiente familiar garantiria o conforto e aconchego nos seus últimos dias.

“Muitas pessoas têm medo que um familiar morra em casa. Mas ela faleceu com dignidade. Pertinho da gente. Foi lindo!”, se recorda emocionado.

Apesar de estar em casa, Maria Helena contou com toda assistência médica e técnica em cuidados paliativos da empresa de Home Care S.O.S. Vida, em Brasília.   

Esse procedimento foca no controle e alívio dos sintomas, como dor, promovendo o bem-estar do paciente. Normatizada pelo Ministério da Saúde, essa intervenção busca oferecer uma assistência mais humanizada para pessoas com doenças agudas e crônicas, que ameacem a vida. 

“Os pacientes que já estão no processo de finitude, em que não há mais possibilidade de intervenção terapêutica para modificar o curso da doença, não justifica que permaneçam no hospital, muitas vezes sendo submetidos a medidas que só vão lhe causar mais dor, mais sofrimento. O ambiente hospitalar tem restrições, que dificultam, por exemplo, a convivência mais intensa com seus entes queridos.

Em casa, eles podem vivenciar esse processo ao lado da família, em um espaço afetivo. É uma morte mais naturalizada. Mas com a garantia de ter todo suporte de assistência médica e de uma equipe multifuncional preparada para mitigar o sofrimento dele nesse momento, evitando intervenções desnecessárias e com foco na qualidade de vida do paciente”, pontua Patrícia Espiño, coordenadora médica da S.O.S. Vida em Brasília.

Patrícia Espiño, coordenadora médica

Uma decisão que deve ser discutida

A geriatra da Secretaria da Saúde do Distrito Federal Priscilla Mussi é contra o que chama de institucionalização da morte, ou seja, cultura de que as pessoas devem falecer em hospitais que foi criada ao longo dos anos, no entanto também ressalta que devemos evitar a romantização da morte domiciliar.

“Essa decisão deve ser discutida com cuidado entre a família e o paciente, caso ele esteja consciente. Pensar na vontade dele e se a família está equilibrada para enfrentar esse processo, que se for bem assistido proporciona um descanse em paz efetivamente”, pondera.

A médica reforça a importância de uma preparação prévia e acompanhamento de uma equipe multifuncional especializada para agir em casos de intercorrência.

“Não é um procedimento simples. É preciso acompanhar os sinais de finitude e atuar aliviando os sintomas, como a dor, por exemplo. A equipe especializada está capacitada para oferecer a assistência e acolhimento necessário para todos envolvidos, já que se não for feito com todo cuidado pode acarretar mais sofrimento”, acrescenta.

geriatra Priscila Mussi

O processo de finitude pode ser percebido por diversos sinais que o paciente apresenta, como saturação de oxigênio, indicativos de diurese e sonolência. A geriatra Priscila Mussi explica que aos poucos a pessoa vai perdendo o contato com o mundo, o que pode fragilizar a família, por isso a importância do suporte psicológico. O acompanhamento é multidisciplinar envolvendo intervenções físicas, psicológicas, sociais e espirituais, fortalecendo a família para a despedida e permitindo que ela vivencie o luto antecipatório de forma saudável e com equilíbrio emocional.

Adaptações diante da pandemia

A pandemia de Covid-19 trouxe implicações severas para a prática dos cuidados paliativos, seja pela escassez de materiais, profissionais, tempo ou contato físico.

Para manter a assistência de forma segura foi preciso adaptar protocolos e procedimentos específicos para o atendimento domiciliar.  Nesse contexto, a necessidade do distanciamento social foi um grande desafio.

“Muitas ações de socialização, realização de sonhos, interação com outras pessoas e lugares não puderam ser realizadas cumprindo a prerrogativa de proteção em relação à contaminação pelo novo coronavírus, mas que desgastou as demais dimensões destas pessoas. As visitas e as saídas de casa, quando possíveis e desejadas pelo paciente/familiar fazem parte do tratamento e contribuem muito inclusive para o controle de sintomas e redução do sofrimento.

Os profissionais precisaram ficar atentos a estas necessidades e buscar ações que pudessem melhorar a experiência e proporcionar mais conforto do ponto de vista social e emocional”, ressalta a Dra. Marta Simone, gerente da S.O.S. Vida (SE).

Desafios atuais dos Cuidados Paliativos

O webinar “Desafios atuais dos Cuidados Paliativos” discutiu as mudanças e contribuições da abordagem paliativista neste momento de pandemia.  O evento, promovido pela S.O.S. Vida, foi transmitido ao vivo no YouTube no dia 29/7.

O debate reuniu os médicos Vitor Carlos (AMO/BA), Luana Brandão (Espaço Ativo/SE) e Ana Rosa Humia (S.O.S. Vida/BA), com moderação da Marta Simone Sousa (S.O.S. Vida/SE).

Confira o vídeo completo.

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