5 de agosto de 2021
A abordagem dos Cuidados Paliativos diante da pandemia da COVID-19
A abordagem em cuidados paliativos observa uma série de critérios – de caráter técnico e humanitário – para que o paciente possa ser admitido e os tratamentos mais eficazes para a fase da doença sejam definidos.
O tema do óbito ainda é tratado como um tabu na sociedade, embora seja parte inerente da vida. Nesse sentido, a ameaça à integridade da vida é algo que assusta o ser humano de maneira geral, pois ela pode apontar para a finitude da vida.
Diante da pandemia da Covid-19, em um cenário onde milhões de vidas foram perdidas, e a ruptura com comportamentos sociais antes perfeitamente casuais, como o abraço, a ameaça de morte paira sobre o ar.
A tensão pelo o que pode acontecer – o risco iminente de morte – é algo que tem ocupado a mente de muitas pessoas, especialmente no contexto brasileiro, onde a situação da pandemia ainda se encontra descontrolada.
Embora a grande maioria dos infectados pelo coronavírus apresente sintomas leves e não tenham a necessidade de atendimento médico-hospitalar, existe um número alto de pessoas que precisam de um acompanhamento profissional, e ainda outros que exigem um tratamento de alta complexidade, como nos casos de pacientes que precisam ficar internados em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
Os relatos dos familiares de pacientes que, tragicamente, não conseguiram um leito de UTI, bem como os relatos daqueles que, felizmente, conseguiram o leito e, posteriormente, a recuperação, retratam o quão angustiante e fatal a doença pode ser.
Em entrevista à rádio Band News, Dra. Ana Rosa Humia pôde falar sobre essa preocupação que atinge a mente das pessoas, tanto nesse momento, como diante de situações que ameacem a continuidade da vida.
“Isso é uma preocupação real porque é uma doença grave, é uma doença que ameaça a vida das pessoas, então todos nós ficamos nessa angústia e ansiedade, no sentido de contrair a infecção e poder chegar a um desfecho final mais grave, que é a morte do paciente.
[…]
Ainda é um grande tabu o enfrentamento de doenças que, como falamos do Covid, mas também a Aids e o câncer, ameaçam a vida das pessoas. Por isso mesmo é que, talvez a gente tenha retomado uma forma de cuidado que era para ser feita por todos os profissionais de saúde, que é o cuidados paliativos, que foca exatamente no paciente, na promoção e alívio do sofrimento do paciente e da família. É para aqueles pacientes que tenham doenças graves e que ameaçam a vida, e a abordagem é multiprofissional e não só com um médico, porque avaliamos e acompanhamos todas as dimensões desse indivíduo: a dimensão física, psicológica, social e espiritual”.
Cuidados Paliativos em doenças crônicas progressivas
Embora a abordagem dos cuidados paliativos seja associada ao tratamento de enfermidades em fase de terminalidade ou condições limitadoras da vida, ela pode ser adotada também em todas as doenças crônicas progressivas. Essa possibilidade da aos cuidados paliativos um caráter mais abrangente, de modo que mais pacientes podem se beneficiar de uma equipe multidisciplinar e paliativista.
“O câncer é um dos principais, mas várias doenças hoje podem ter esse desfecho no avançar dessa doença, e precisamos estar atentos para esses pacientes também”.
O desejo compreensível de permanecer vivo pode levar alguns pacientes a desejarem todas as terapêuticas disponíveis no ambiente hospitalar, mesmo que elas não tragam benefícios, e resistam a possibilidade dos cuidados paliativos.
Uma ideia equivocada associada a essa abordagem é de que as terapêuticas adotadas nos cuidados paliativos não apresentarão efeito algum, ou de que os pacientes são selecionados para serem assistidos por essa abordagem com base na escassez de recursos ou de leitos hospitalares.
A admissão de um paciente em um programa de cuidados paliativos utiliza critérios não só técnicos, mas também humanitários, conforme explica Dra. Ana Rosa. Ainda segundo ela, é a partir desses critérios que o direcionamento da conduta e o tratamento do paciente serão definidos. Deste modo, se evita a utilização de procedimentos que não trarão benefícios ao paciente, ou que até mesmo gere prejuízos.
“O que a gente não pode fazer é ofertar um tratamento desproporcional para um paciente que não tem mais benefício com aquela terapêutica. Isso é o que não podemos fazer. Temos que saber exatamente o que é necessário, o que é adequado e o que é proporcional para aquela fase de doença daquele paciente. […] Precisa que seja uma equipe preparada para definir isso, com escores bem definidos – técnicos e humanitários”.