17 de abril de 2021
Procedimentos invasivos em usuários em internação domiciliar | Estudo Científico
A Revista de Enfermagem Contemporânea (REC) trouxe o estudo “Procedimentos invasivos em usuários em internação domiciliar” realizado junto a pacientes da S.O.S. Vida em Salvador.
O estudo, publicado em Abril/2020, foi realizado pelos enfermeiros Thaís Marques Moura, Gilmara Ribeiro Santos Rodrigues, Victor Fernando Alves Neves e Gleide Regina de Sousa Almeida Oliveira, com o levantamento de 152 procedimentos invasivos em uma amostra de 110 pacientes tratados em Home Care.
“Delimitar o perfil de procedimentos realizados na atenção domiciliar possibilita a construção de protocolos, criação de estratégias de cuidados no domicílio e de prevenção de eventos adversos, além de orientações para pacientes e familiares/cuidadores”, explica Gleide Oliveira, assessora do Núcleo de Pesquisa e Estudos Científicos da S.O.S. Vida.
A REC é uma publicação científica semestral da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, que busca promover o debate e a construção de conhecimentos na área de ciências da saúde.
Confira o artigo científico.
No modelo hegemônico hospitalocêntrico, os cuidados realizados pela equipe multiprofissional vão desde atividades de vida diária (AVD’s) até procedimentos invasivos, que estão diretamente associados às Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS’s).
A constante exposição a procedimentos invasivos resulta em malefícios para os usuários, como a internação prolongada, elevado risco de mortalidade e desenvolvimento de infecções multirresistentes, que ocasionam período de altos custos hospitalares e a dispersão de microrganismos multirresistentes. A atenção domiciliar (AD) surge, nesse contexto, como uma possibilidade para minimizar esses agravos.
O Ministério da Saúde define AD, como sendo os cuidados prestados em domicílio visando à prevenção e tratamento da doença, assim como a reabilitação, paliação e promoção da saúde, garantindo a continuidade de cuidados. A AD é uma modalidade de atenção à saúde integrada as Redes de Atenção à Saúde (RAS)
Os Programas de Atenção Domiciliar (PADs) estão vinculados às Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), previstos como componentes da Rede de Atenção às Urgências e são organizados para atender a pacientes em agudização de algum quadro clínico cuja internação hospitalar seja indicada, mas passível de ser evitada por meio de AD.
O modelo de assistência domiciliar é percebido como um esforço de mudança na organização dos serviços de saúde, que busca superar o modelo assistencial centrado em cuidados hospitalares, embora os mesmos sejam imprescindíveis em situações específicas.
Nesse modelo, destaca-se a internação domiciliar, definida como uma infraestrutura minimizada do hospital ao domicílio, sendo uma estratégia de desospitalização. Retrata uma alternativa segura e eficaz para a atenção a pacientes específicos, clinicamente estáveis, mas que requerem cuidados singulares e diários do profissional de saúde.
PRINCIPAIS PROCEDIMENTOS INVASIVOS NA INTERNAÇÃO DOMCILIAR
Observou-se a ocorrência de 152 procedimentos invasivos nos 110 pacientes. Dentre os suportes terapêuticos, predominou o cateter central de inserção periférica (92,0%), seguido do cateter venoso central (33,0%).
Em relação ao suporte ventilatório, traqueostomia foi a mais frequente (25,0%), e quanto à terapia nutricional prevaleceu a gastrostomia (46,1%). Dentre os dispositivos de eliminação vesical, a sonda vesical de demora apresentou percentual de 10,5%.
Delimitar o perfil de procedimentos realizados na atenção domiciliar possibilita a construção de protocolos relacionados a estes procedimentos, criação de estratégias de cuidados no domicílio e de prevenção de eventos adversos e orientação dos pacientes e familiares/cuidadores.
Os pacientes alvos da análise deste estudo são caracterizados predominantemente pela faixa etária acima de 60 anos. Este achado é importante a partir do conhecimento que as pessoas idosas, quando comparado com o jovem, são mais susceptíveis aos efeitos adversos dos procedimentos invasivos, especialmente à infecção, em razão de alterações fisiológicas do envelhecimento, declínio da resposta imunológica e a presença de doenças concomitantes.
Como no contexto nacional e internacional há escassez de estudos sobre procedimentos invasivos utilizados por usuários em internação domiciliar, não foi possível comparar esses resultados com várias outras investigações.
Dentre os achados desta pesquisa, o PICC foi o dispositivo de suporte terapêutico mais utilizado, o que se justifica pelas vantagens da implantação: como o baixo risco de infecção; ser um acesso venoso eficaz; poder ser realizado à beira leito; ter longo tempo de permanência (2 anos e 6 meses) e ter maior segurança na administração medicamentosa.
O PICC tem indicação segura para os pacientes em cuidados paliativos visto que há a vulnerabilidade e sofrimentos físico e psicológico frente ao processo do adoecimento, que contribuem significativamente para a qualidade de vida. As veias mais indicadas são a basílica e a cefálica porque possuem o trajeto menor até a veia cava superior.
Enquanto o cateter venoso central (CVC) no domicílio não é tão vantajoso, por não permitir uso intermitente e possuir curta duração. Outra desvantagem refere-se ao uso domiciliar impróprio tanto pelo fato de deslocamento do dispositivo e maior risco de infecção. Embora o CVC guiado por ultrassom seja uma perspectiva, ainda não é adotado absolutamente.
PARTICULARIDADES DA ATENÇÃO DOMICILIAR
No domicílio, a enfermeira tem que orientar os pacientes e família quanto à necessidade e como manter a sonda pérvia, detectar problemas de obstrução, vazamentos, exteriorização, higienização, o preparo e administração da dieta.
No ambiente domiciliar, é essencial a escolha do dispositivo ideal e Adequado a cada paciente, visando prevenir e diminuir o risco de Complicações.
É preciso também avaliar o preparo e as condições da família para cuidar do paciente em domicílio e a necessidade ou não de um Profissional de saúde no domicílio.
Além disso, nos casos possíveis, estimular a autonomia do próprio paciente, orientando-o e treinando-o em relação aos procedimentos e dispositivos.
Normalmente, um mesmo paciente faz uso de mais de um dispositivo simultâneo, o que ficou evidenciado em quase metade dos pacientes desta pesquisa, diferente do contexto hospitalar no qual maioria dos pacientes internados, usarem apenas um dispositivo invasivo (55,9%).
Constatou-se em outro estudo com 54 pacientes no regime de internação domiciliar, que 31,5% realizaram traqueostomia e gastrostomia concomitantemente e 3,7% gastrostomia e acesso venoso periférico simultaneamente.
PROCEDIMENTOS INVASIVOS EM INTERNAÇÃO DOMICILIAR: CONFIRA O ARTIGO COMPLETO
SOBRE O MÉTODO DE PESQUISA
Estudo retrospectivo quantitativo descritivo com utilização de dados secundários, a partir do banco de dados da pesquisa maior intitulada “Perfil sociodemográfico e clínico de usuários assistidos na atenção domiciliar”, sob número do CAAE 99850418.6.0000.5544. A coleta de dados foi realizada em outubro e novembro de 2019.
No banco de dados constavam dados sociodemográficos e clínicos de pacientes que estiveram internados em uma unidade privada de assistência domiciliar na cidade de Salvador, BA, Brasil. Este serviço foi escolhido por ser o pioneiro no estado da Bahia a prestar cuidados domiciliares a pacientes crônicos e por admitir pacientes com doenças crônicas, com quadro clínico estável e em condições de prosseguir com o tratamento em domicílio.
O estudo apresenta como limitação ter sido realizada em apenas um serviço de atenção domiciliar, impedindo que os resultados possam ser generalizáveis para todos e quaisquer pacientes em internação domiciliar.
Todavia, os mesmos se tornam uteis para pacientes internados em unidades de saúde com o mesmo perfil do lócus de pesquisa.
Como citar este artigo
Moura TM, Rodrigues GRS, Neves VFA, Oliveira
GRSA. Procedimentos invasivos em usuários em internação domiciliar.
Rev Enferm Contemp. 2020;9(1):85-93. doi: 10.17267/2317-3378rec.
v9i1.2812
Submetido 11/03/2020, Aceito 12/04/2010, Publicado 15/04/2020
Rev. Enferm. Contemp., Salvador, 2020 Abril;9(1):85-93
Doi: 10.17267/2317-3378rec.v9i1.2812 | ISSN: 2238-2370