17 de abril de 2021
Pediatra destaca a importância da Assistência Domiciliar
“O Home Care sempre foi um parceiro desejado para quem faz pediatria hospitalar”.
O Home Care é um parceiro importante e desejado para quem atua na área de pediatria hospitalar. Esta é a opinião da médica Elenilde Gomes Santos, coordenadora da equipe de internação em pediatria do Hospital São Lucas, em Aracaju, Sergipe.
Com 23 anos de experiência na área, ela conta que antes desse serviço as crianças com doenças crônicas se internavam com muita frequência, o que era ruim tanto para os pacientes quanto para a própria unidade de saúde, que ficava com os leitos ocupados por pacientes crônicos, reduzindo a disponibilidades de leitos de UTI pediátrica para a população infantil.
Na entrevista que concedeu para o informativo da S.O.S. Vida a médica aborda este e outros temas, como a volta às aulas durante a pandemia e a importância da vacinação para as crianças.
Ao longo dessas últimas duas décadas a pediatria mudou muito?
Quando eu comecei, muitos profissionais nem saiam da cidade para cursar Residência porque pediatria era considerada uma área de menor complexidade. Com o tempo esse perfil foi mudando, com várias especialidades surgindo para atender às demandas. Posso citar como exemplo a endocrinologia pediátrica, gastropediatria, a neuropediatria e a pneumopediatria, ou seja, praticamente todas as especialidades da clínica médica.
Antigamente a criança recebia o atendimento de um profissional especializado em adulto. Hoje ela é atendida por um pediatra com especialidade naquela área específica. É outra forma de enxergar o paciente, que é atendido por um profissional que se especializou naquela fase do crescimento e desenvolvimento da criança e do adolescente.
Então a terapêutica e os medicamentos para esse público também mudaram bastante ao longo dessas duas décadas?
Sim. Vale destacar que as pesquisas nessa área geralmente vêm depois dos estudos em adultos. As drogas só são testadas nas crianças depois. Isso torna a prescrição mais segura, porque é preciso avaliar com cuidado os efeitos colaterais devido nesta fase de crescimento e desenvolvimento.
Sobre a futura vacina da COVID-19 a senhora acha que vai acontecer o mesmo?
As prioridades deverão ser direcionadas para profissionais de saúde, pacientes com comorbidades e idosos. Ou seja, pacientes que têm uma vulnerabilidade maior. Não é o caso das crianças. Lógico que elas adoecem e podem desenvolver um quadro grave da COVID-19, mas isso ocorre com uma frequência bem menor do que nesses grupos vulneráveis.
Ainda sobre esse assunto, percebi, como pediatra, que essa pandemia fez reduzir a procura pelas vacinas já consolidadas no Brasil. Isso é muito grave, porque teremos a volta de doenças que já estavam sob controle ou mesmo erradicadas. Os pais precisam retomar a cobertura vacinal, como a imunização contra o sarampo (que estava praticamente erradicado). Tem ainda as vacinas contra meningite, pólio, tuberculose e hepatite B, todas importantes.
Existem grupos na internet fazendo campanha contra a vacinação, prestando um desserviço à população. Esses grupos divulgam, sem base científica, supostos efeitos colaterais da vacinação.
Ainda sobre a COVID-19, qual a sua posição sobre a volta às aulas nas escolas?
Em Sergipe as escolas estão fechadas desde o início da pandemia. Em minha opinião, não podemos aplicar o mesmo critério para todas as crianças e escolas indistintamente. Seria preciso avaliar a região, o número de casos, o tipo de escola, a quantidade de alunos e as condições que essas escolas têm de receber os estudantes com os critérios e cuidados que o momento exige. Além disso, é preciso respeitar a decisão familiar.
Acredito que esse afastamento da escola deva estar causando impactos psicossociais em muitas crianças. Esse é um tema bem delicado e exige uma avaliação dos riscos. Observo que tem ocorrido uma liberação da família para o contato de seus filhos com outras crianças, como vizinhos, parentes e amigos. Talvez esse fato tenha correlação com o aparente aumento do número de casos entre esse público.
Qual a sua posição para Home Care na pediatria?
O Home Care sempre foi um parceiro desejado para quem faz pediatria hospitalar. Quando comecei no Hospital São Lucas havia uma demanda grande de crianças crônicas, que se internavam com muita frequência. Eram recorrentes pela falta de uma assistência domiciliar. Depois que o Home Care chegou essa realidade mudou. Inclusive nesse período de isolamento social por conta da pandemia esse serviço foi essencial para que as crianças tivessem uma assistência em seu domicílio, sem a necessidade de exposição em hospitais.
Quais as principais doenças das crianças que precisam de Home Care?
São pacientes com quadro de neuropatia crônica, como paralisia cerebral, ou algum atraso no desenvolvimento, de causa congênita ou adquirida. Crianças com dependência de ventilação mecânica ou outro suporte ventilatório, que necessitam de equipe multidisciplinar, como assistência de enfermagem, fisioterapia, fonoterapia, nutrição, entre outros. Esse público precisa de uma assistência diferenciada em domicílio. Eles internavam com frequência, principalmente por problemas respiratórios e infecciosos. Depois do Home Care houve uma redução nessas ocorrências.
Currículo
Há 23 anos na profissão, Elenilde Gomes Santos possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Sergipe e Residência Médica em Pediatria e Complementação Especializada em Endocrinologia Pediátrica pela Universidade de São Paulo – USP, além de Mestrado e Doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Sergipe, instituição onde é Professora Adjunta do Departamento de Medicina.
Atua com ênfase em Endocrinologia Pediátrica, principalmente nos seguintes temas: Deficiência de Crescimento, Deficiência do Hormônio de Crescimento, Hipotireoidismo Congênito e Triagem Neonatal. Escolheu Pediatria de forma indireta, pois entrou na faculdade para fazer obstetrícia, mas durante o curso acabou se interessando por neonatologia, que é a assistência ao recém-nascido em sala de parto.