17 de abril de 2021
Morte e Morrer: Aspectos psicológicos | Jornal A Tarde

A psicóloga Cláudia Cruz discute os aspectos psicológicos no processo de morte e morrer em artigo publicado no Jornal A Tarde (BA).
Confira o artigo completo.
Nas últimas décadas tem-se observado uma crescente preocupação com o processo de morte e morrer em consequência ao envelhecimento da população. Entretanto, essa maior longevidade não tem implicado, necessariamente, em melhoria da qualidade de vida. Fato que necessita de inúmeras reflexões.
Os avanços das tecnologias médicas, por exemplo, permitem um prolongamento da vida de pacientes para além dos padrões naturais. Em alguns casos, inicia-se uma luta incansável e, muitas vezes, desproporcional, pela busca por curar as doenças – o que nem sempre é possível -, criando assim uma cultura de negação da morte, colocando em segundo plano as ações que priorizariam um final de vida com dignidade.

Na contramão desse movimento, temos um aumento das discussões no Brasil e no mundo sobre os Cuidados Paliativos para pacientes que enfrentam doenças graves, ameaçadoras de vida e sem possibilidade de cura terapêutica, ofertando uma abordagem onde o cuidado integral é priorizado, através da prevenção e controle de sintomas de natureza física, social, espiritual e psíquica e estendendo os cuidados também para familiares e cuidadores, que também sofrem durante o processo de adoecimento.
Abordar o ser humano em sua integralidade demanda um trabalho multiprofissional que envolve médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, assistentes sociais, farmacêuticos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistentes espirituais – de acordo com a crença do paciente – e psicólogos.
A vivência de uma doença grave e ameaçadora da vida costuma trazer perdas com as quais o paciente e a família são impelidos a conviver. Perdas da saúde, da autonomia, da funcionalidade, da autoimagem, do emprego e do status social. Um conflito de situações que podem gerar preocupação, angústia, tristeza, desamparo, desesperança e interferir na evolução da doença, na intensidade e controle efetivo dos sintomas.
Diante desse cenário, a abordagem desses aspectos sob a ótica da psicologia se faz fundamental, sendo um diferencial para a qualidade do cuidar. Cabe ao psicólogo, contribuir com um suporte psíquico que permita ao paciente e seus entes queridos uma ressignificação dessa nova condição de vida e um amparo para o enfrentamento do luto antecipatório e também o apoio emocional durante e após o óbito do paciente.
Resgatar a biografia do paciente, entender o contexto atual de vida e as implicações de sua doença. Oferecer-lhe um lugar de escuta em que possa lidar com suas mágoas, medos, culpas e aceitações diante da morte. Essas são questões fundamentais.Diante das especificidades que envolvem os cuidados paliativos, é inegável a importância do suporte psicológico para um melhor enfrentamento da doença.
