9 de junho de 2021
A abordagem em cuidados paliativos | Rádio Excelsior
A abordagem de tratamento em cuidados paliativos tem se tornado cada vez mais objeto de discussão. Nessa prática, o foco das ações é voltado ao alívio do sofrimento do paciente.
É comum associar a assistência médica a aplicação de terapêuticas para tratar uma doença e livrar o paciente de determinada enfermidade ou oferecer um tratamento eficaz que promova o controle da doença. Nessa dinâmica, o foco das ações está na enfermidade, mais especificamente no combate a ela.
Porém, quando as possibilidades de cura se esgotam e não há um tratamento eficaz, ou quando a doença já atingiu uma condição grave e ameaça a vida do paciente, a prática dos cuidados paliativos pode ser adotada.
Nessa abordagem de tratamento, o foco das ações deixa de ser a enfermidade e passa a ser o conforto do paciente. Ao se confirmar a não viabilidade da continuidade de um tratamento que promova a cura ou um controle da doença, as ações são direcionadas a promoção do alívio do sofrimento gerado pelos sintomas e as demais manifestações negativas no corpo do paciente.
Para que isso aconteça, é necessário que o paciente seja acompanhado por uma equipe multiprofissional, responsável por avaliar as diferentes dimensões da saúde do paciente.
Em entrevista à Rádio Excelsior, a Dra. Ana Rosa Humia, coordenadora médica da S.O.S. Vida, falou um pouco sobre essa abordagem.
“Cuidado paliativo é uma abordagem que é feita por uma equipe multiprofissional, para pacientes que estão enfrentando doenças graves, que ameacem a continuidade da sua vida. A gente faz isso através da prevenção e alívio do sofrimento, mas principalmente querendo promover qualidade de vida para esse paciente, para os dias que ele tem, e também apoio aos seus familiares” explica Dra. Ana Rosa.
Ouça a entrevista completa.
Equipe Multiprofissional
A necessidade de uma equipe multiprofissional em cuidados paliativos se dá pelo grau de complexidade do quadro do paciente. Essa complexidade, no entanto, não reside apenas na dimensão física, mais também em outras dimensões da vida do paciente e dos seus familiares.
“Precisamos estar atentos a identificação precoce dos sintomas que prejudicam esse paciente, mas também outros problemas de natureza física, psicossocial, espiritual; […] através de uma equipe que a gente assiste esse paciente, várias dimensões do ser humano são abordados, não somente os aspectos físicos”.
A Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) recomenda quatro categorias principais de profissionais para compor a equipe multiprofissional na abordagem de cuidados paliativos, são elas: médico, enfermeiro, psicólogo e serviço social. Porém, essa recomendação não impede a participação de outras categorias profissionais, que podem complementar e aprofundar ainda mais o entendimento das necessidades do paciente e dos seus familiares.
“[…] no nosso serviço, entendemos que todas as categorias são importantes e interagem no plano integrado de cuidado desse paciente que está em cuidados paliativos. Nós temos médico, enfermeiro, psicólogo, assistente social, fisioterapeutas, fonoterapeutas, terapeutas ocupacionais; podemos ter também um capelão, que ajuda a resolver e discutir alguns problemas de ordem espiritual. E temos também nutrição”.
Cuidados paliativos no home care
Um paciente pode ser admitido em um programa de cuidados paliativos em uma unidade hospitalar e, dependendo de cada caso, também no domicílio. A possibilidade de tratar o paciente em casa proporciona condições diferenciadas e positivas na assistência. Além disso, em decorrência da pandemia da Covid-19, outro fator favorável se soma aos benefícios já existente: a maior segurança do paciente com relação a exposição ao coronavírus.
Em uma unidade hospitalar, mesmo em alas isoladas, o risco de exposição a bactérias e vírus – entre eles o coronavírus – é maior. Deste modo, receber o tratamento em casa pode oferecer um grau maior de segurança ao paciente e seus familiares.
“Nesse momento em que estamos na pandemia, pensar que esse paciente vai ser assistido em casa, em seu domicílio, é uma diferença muito grande.
Porque a assistência em domicílio proporciona condições diferenciadas na assistência, o paciente se sente empoderado, tem mais autonomia e privacidade, a família participa das decisões sobre o acompanhamento desse paciente, temos mais vínculo familiar e nós seguimos um plano integrado de cuidado, que é compartilhado entre paciente, familiares e equipe, de maneira que a gente possa acompanhar a evolução da doença, incluindo aí o processo de morte e luto”, explica.
A abordagem em cuidados paliativos tem como o foco central o conforto do paciente em todo processo da doença, um processo que, por vezes, pode ser bastante solitário. Assim, estar próximo ao seio familiar em um momento de adversidade traz benefícios tanto para o indivíduo quanto para as pessoas que o cercam.
“A sobrevida desse paciente em ambiente familiar acontece com menos sofrimento, com maior qualidade de vida e evita procedimentos invasivos que não modificarão a evolução da doença.
Oferecemos um sistema de cuidado que auxilia esse paciente a viver o melhor possível, com maior qualidade até a sua morte, mas principalmente com a permanência desse profissional próximo do paciente e dos seus familiares, cercando eles do cuidado do início até o fim em todo processo da doença”, explica Dra. Ana Rosa.