17 de abril de 2021
Home Care, família e bem-estar | Entrevista Saúde em Foco

Os benefícios do convívio familiar no bem-estar de pacientes de Home Care foi o tema abordado por Cláudia Cruz e Rosana Alfano, psicóloga e assistente social da S.O.S. Vida no programa Saúde em Foco da Rádio Excelsior.
A entrevista conduzida pela jornalista Patrícia Tosta tratou também sobre as especificidades do tratamento de Home Care e quais o perfil do paciente é mais indicado para esse tipo de cuidado.
O Home Care, ou atenção domiciliar, é uma modalidade assistencial que tem como objetivo o restabelecimento ou manutenção da saúde do indivíduo através do tratamento realizado por uma equipe multidisciplinar no domicílio do paciente.
“Porém existem alguns critérios para a indicação do Home Care, dentre eles, o paciente precisa ter estabilidade clínica e um diagnóstico firmado. Nós não podemos levar pacientes para serem cuidados em casa que não tenha um diagnóstico em que ele não esteja estável, porque se não, o atendimento não se torna seguro”, explica Rosana Alfano, supervisora de serviço social.
FATORES SOCIAIS
Além dos critérios técnicos, a indicação do paciente para Home Care precisa atender a fatores sociais, como o domicílio livre de riscos e participação efetiva da família e/ou cuidador.
“Um dos primeiros pontos que a gente precisa ter na assistência domiciliar é a disponibilidade da família. Se a família não está apta para assumir esses cuidados, ou não tem como assumir, o ideal é que o paciente permaneça um período a mais dentro da unidade hospitalar, ou que saia numa fase em que ele não depende mais de cuidados em casa, ou que a gente junto com a família viabilize outros meios e veja o que é possível para este paciente estar em casa”, esclarece a assistente social.
No processo de avaliação do paciente, ainda no hospital, é feita uma anamnese inicial e também uma entrevista com a família, para que se possa identificar as dificuldades sociais, econômicas, que causem algum impacto nesse atendimento.
“Tudo gira em torno da segurança do paciente, então o perfil familiar é extremamente importante, pois se não temos vínculos firmados com aquela família, pouco provável que a gente consiga fazer isso, pós adoecimento ou na fase do adoecimento”, destaca Rosana Alfano.
A psicóloga Cláudia Cruz complementa enfatizando a importância do alinhamento e da estruturação junto à família para o bom andamento do tratamento no domicílio.
“A preparação da família é imprescindível. A família tem um funcionamento muito específico, ela tem uma organização. Cada membro ocupa um papel e quando a doença surge na família, ela acaba desestruturando, desorganizando. Naturalmente essa desorganização vai mexer com a rotina, eles precisam se preparar para absorver esse cuidado, já que eles não foram preparados pra isso antes, por desempenharem outras profissões e acabam se tornando cuidadores, sem uma preparação prévia para isso, gerando sofrimento, desestrutura.
Cabe a equipe, nesse momento, acolher, avaliar, dar suporte para que eles possam enfrentar as dificuldades de uma forma melhor, estimular que ele busque informações, que se aproprie do que está acontecendo para que ele possa lidar melhor com o processo.”
CONVÍVIO FAMILIAR
Uma das grandes vantagens da assistência domiciliar é a possibilidade de proporcionar ao paciente um maior convívio com família como um todo, não só aquela família principal que está na casa, mas também outras pessoas do relacionamento.
Do ponto de vista dos cuidados diretos, a proximidade com outras pessoas pode ajudar a estabelecer uma rede de apoio, para evitar que apenas um familiar exerça o papel de cuidador, trabalho que por vezes pode se mostrar exaustivo.
“As famílias precisam se preparar para lidar com o adoecimento do seu ente. A gente percebe, em algumas situações, a fadiga de compaixão, que é quando ocorre esse estresse muito grande, consequência de uma carga excessiva de trabalho no processo de cuidar. Temos que estar atentos a isso, pois nós adoecemos também. Não dá para cuidar enquanto doente”, alerta a psicóloga.
Cláudia Cruz comenta sobre a necessidade de estabelecer a rede de apoio, para dar oportunidade do cuidador “principal” de cuidar de si, da sua saúde física e mental. A psicóloga alerta também para os impactos em torno de toda a família e destaca também o papel do serviço de Home Care para apoiar todo o processo.
“São diversas as dificuldades que as famílias enfrentam. A primeira delas é você vivenciar a doença, isso já é extremamente complexo, seja de uma criança que nasce com uma série de comorbidades, seja do adulto com uma doença repentina. Isso não é fácil e desestrutura a família por completo. Seguido disso, temos as questões econômicas também. Às vezes a pessoa que adoeceu é o principal provedor, era quem mantinha aquela família e isso também causa desestruturas. É uma série de dificuldades, que a assistência domiciliar e o apoio da equipe técnica vem para subsidiar e amenizar essas questões”.
ASSISTA AO VÍDEO: HOME CARE E A ARTE DE CUIDAR
UM LUTO ANTECIPADO
O ambiente psicológico é outro desafio inerente ao processo de adoecimento, seja pelas mudanças na rotina, pela perda da autonomia do paciente ou pelas novas demandas para a família.
“A família e o próprio paciente acabam vivenciando um luto antecipatório, que é aquele luto em que a gente vivencia as perdas no dia a dia. A perda da vida saudável, a perda do controle do próprio corpo, a perda social e material, porque acaba repercutindo a parte financeira… Esse luto precisa ter um suporte, a equipe precisa dar um suporte pra essa família e para o paciente que está vivenciando esse processo, para que ele possa ressignificar a vida dele, conviver com o processo e levar uma vida saudável. A gente não pode deixar que a autonomia se perca, que os desejos deles sejam desconsiderados, é importante incluir ele nesses processos, eventos sociais, se ele puder participar, opinar, é muito bem vindo.
Qual a grande dificuldade no enfrentamento da doença? É quando o foco está apenas na doença. Quando torna isso o centro da vida e a vida acaba perdendo o sentido. A doença precisa fazer parte, e não ser a vida da gente”, encerra Cláudia Cruz.