17 de abril de 2021
Covid-19: O que esperar da segunda onda? | Vídeo
Infectologistas afirmam que ainda estamos na primeira onda de contaminação da COVID-19.
Apesar de termos uma intensificação dos casos de contaminação pelo novo coronavírus no Brasil (o último boletim epidemiológico constatou um aumento em 21 estados e mais o Distrito Federal), os dois infectologistas da S.O.S. Vida, Monique Lirio e Matheus Todt, não acreditam que estamos vivendo uma segunda onda da doença, como ocorre na Europa.
Para eles, não tivemos uma queda significativa no número de casos seguida de estabilidade para considerarmos que estamos vivendo a mesma situação dos países europeus.
Esse debate ocorreu durante Webinar “Covid-19: o que podemos esperar da segunda onda?”, promovido pela S.O.S. Vida nesta quarta-feira, dia 9, transmitido ao vivo pelo YouTube com a presença dos dois especialistas.
O evento contou com a mediação da médica Marta Simone Sousa, gerente da S.O.S. Vida em Sergipe.
Confira ao vídeo completo
Aprendizados da Pandemia
Para Matheus Todt, que além de infectologista da S.O.S. Vida em Sergipe, é também professor universitário, a situação da América Latina – na teoria – é a melhor possível em relação a outros continentes, pois podemos aprender com os exemplos de países que conseguiram controlar a doença, mas não é o que temos feito.
“Infelizmente temos aprendido ou copiado os piores exemplos possíveis, como os Estados Unidos”.
Segundo ele, aquele país tem uma política ineficaz de controle da doença.
O médico acredita que essa nomenclatura de primeira e segunda onda é frágil, pois não tivemos uma queda significativa no número de casos da doença e muito menos uma situação que pudéssemos considerar a epidemia como resolvida.
“Não tivemos uma primeira onda controlada, com baixo índice de transmissão. Ou seja, se a gente não resolveu uma primeira como estamos tendo uma segunda?” questiona o especialista.
Ele acrescenta que tivemos uma tendência de estabilidade, mas agora temos um aumento importante no número de casos.
“Não vem ao caso se temos ou não segunda onda. O que importa é que existe atualmente muitos casos com tendência de aumento.”
A infectologista Monique Lirio, coordenadora do serviço de controle de infecção domiciliar da S.O.S. Vida, concorda com o colega. Para ela, mais importante do que falar em segunda onda de contágio, é ter clareza que o vírus não deixou de circular e que a epidemia continua. A médica apontou diferenças em relação à Europa, que teve vários países fazendo lockdown e implantando medidas de isolamento rigorosas.
“Quando olhamos a curva da maioria dos países europeus, vemos um pico muito alto e depois das medidas de contenção um decréscimo grande”.
A médica lembra que eles passaram a ter um período com a situação aparentemente controlada, com taxas menores, mas, à medida em que as pessoas passaram a viajar, por causa do verão, os casos aumentaram.
“Não saímos ainda da primeira onda, pois em nenhum momento tivemos um número muito baixo de casos. Nossa curva é muito extensa e tortuosa”.
A médica destaca ainda quando as pessoas passaram a se aglomerar nas ruas, sem usar máscaras e higienizar as mãos, os casos voltam a subir.
“Enquanto não tivermos disciplina para conviver com o vírus, iremos passar por esses piques de curva ou continuidade dela”.
Para Monique, outro fator que favoreceu o aumento no número de casos é que o país é muito pobre e que é difícil as pessoas se isolarem, pois precisam sair de casa para trabalhar. Tem famílias que moram em residências pequenas, com um cômodo para seis ou mais pessoas e dependem do transporte público, o que favorece a aglomeração.
Lembrou que as primeiras ocorrências chegaram primeiro pelas capitais e depois se espalharam pelo interior.
“Nesse momento, os casos acontecem em várias cidades ao mesmo tempo. Existe ainda uma pressão de leitos por outras doenças, pois muitas pessoas ficaram em casa no início da pandemia e não conseguiram cuidar de suas comorbidades”.
Dr. Matheus falou que em Sergipe registrou cerca de 100 mil casos, com taxa de mortalidade de 2,4%, seguindo a tendência do Brasil. Só que nas últimas semanas houve um aumento de casos. Os 2 principais hospitais particulares da capital estão com todos os leitos de COVID para adultos ocupados e na rede pública esse índice chega a 82%.
Poucos testes prejudicam o combate a pandemia
A moderadora fez uma pergunta sobre a importância dos testes. A primeira a responder foi Dra. Monique, que ressaltou o baixo índice no Brasil.
“Testamos pouco e quando os casos começaram a cair testamos menos ainda. Pode ter sido uma estratégia falha”.
Segundo ela, quando os casos estão mais baixos, é mais fácil testar e rastrear os contactantes e assim fazer com que as pessoas cumpram o isolamento.
Dr. Matheus lembrou da recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) no início da pandemia sobre a importância da testagem. Segundo ele, a Coreia do Sul conseguiu bons resultados, pois testava em massa e isolava as pessoas contaminadas.
“Não fizemos isso aqui, portanto não tinha como dar certo. Em pleno aumento no número de casos, ainda testamos pouco”.
O médico acrescentou que a nova doença que tem baixa letalidade, mas alta capacidade de infectar e que o isolamento social é a medida mais efetiva. Citou estudos que mostram que o isolamento favorece a economia, pois diminui o número de casos e favorece os negócios.
“Ou seja, é melhor para a saúde e para a economia”.
Para Dr. Matheus, as recentes medidas de restrição são válidas, mas tomadas de forma atrasada e tímida.
“Se olharmos para Portugal e Alemanha, por exemplo, nos primeiros indícios de piora, eles aumentaram as medidas restritivas”.
Para o médico, ou tomamos medidas mais duras que duram pouco tempo e são mais eficazes ou continuamos sendo flexíveis e mantendo uma curva irregular.
Dra. Monique reforçou essa opinião dizendo que o distanciamento funciona e impede a transmissão, destacando também as responsabilidades individuais.
“Se as pessoas estão isoladas, o vírus não se espalha”. “O governo orienta, proíbe festas e praias, mas a população precisa ter controle e fazer a sua parte. A sensação é que as pessoas perderam o medo do vírus. “Precisamos a aprender a conviver com o problema, mas com responsabilidade”.
Ela citou o exemplo das festas ocorridas durante as últimas eleição, como as pessoas se aglomerando nas ruas e sem máscara ou usando de maneira errada.
Uma das perguntas dos internautas foi sobre quando voltaremos ao normal. Para Dr. Matheus não existe fórmula mágica.
“Não é porque vai começar a vacinação que tudo ficará bem. Primeiro, temos que alcançar um grande número de pessoas com um índice razoável de imunização, por volta de 60% da população para quebrar a corrente da pandemia”.
Segundo ele, o tempo médio que o organismo leva para gerar a imunidade varia de 7 a 14 dias. Só então vamos quebrar a cadeia de contágio e isso deve levar meses.
Dra. Monique lembrou que não basta ter a vacina. Existe toda uma logística de distribuição, armazenamento e treinamento de profissionais.
Sobre a periodicidade da vacinação, Dr. Matheus lembrou que todas as vacinas anunciadas preconizam em imunidade de 6 meses a um ano.
“Ainda não sabemos se precisaremos tomar duas doses ao ano. Infelizmente não temos um dado concreto. Temos também que levar em consideração a diferença entre eficácia e efetividade. Quando falamos em efetividade estamos falando do mundo real. Teremos que ter um tempo para avaliar se a carga de anticorpos ainda está boa depois de um ano”.
Nesse sentido, Dra. Monique lembrou que as máscaras ainda serão necessárias depois da vacina.
“Precisamos esperar para ver se o que os estudos apontam vai se reproduzir entre a população”.