17 de abril de 2021
Como lidar com o medo da morte? | Live jornal Correio
Além dos riscos à saúde e o bem-estar, o Coronavírus trouxe consigo uma série de incertezas à diversas ordens da vida, produzindo crises fora do campo da saúde. Essas crises paralelas podem agravar ainda mais os medos relacionados ao vírus, como o medo de ser infectado e o medo da morte.
Para tratar desse assunto, a psicóloga Cláudia Cruz, profissional da S.O.S. Vida, foi convidada pelo jornalista Jorge Gauthier para participar da live Saúde e Bem-Estar, promovida pelo Jornal Correio, para falar sobre o tema “Como lidar com o medo da morte?”.
Vivenciando o medo da morte
Embora quando comparada com outras doenças a Covid-19 tenha demostrado possuir uma taxa de letalidade menor, o seu índice de transmissibilidade é bastante elevado. O aumento acelerado no número de casos confirmados da Covid-19 e no número de óbitos provocados pela doença no Brasil, trouxe para perto uma realidade antes observada apenas nos países atingidos de forma mais grave pelo vírus. Esse cenário pode intensificar ainda mais o medo da morte, uma vez que estamos inseridos nele.
“Agora a gente vive algo muito mais concreto, muito mais próximo, que nos deixa em risco o tempo todo. Isso é difícil, essa situação gera angústia, gera medo, gera um sentimento de insegurança muito grande. […] O processo de adoecer é um processo de teste, que desorganiza, desestrutura. Faz com que a gente entre em contato com nossas fragilidades, nossa vulnerabilidade, faz a gente sentir medo, angústia e faz a gente entrar em contato com nossa finitude.”, explicou a profissional.
Se por um lado ainda estamos enfrentando o Coronavírus, e as medidas e recomendações de segurança determinadas pelas autoridades competentes estejam em vigor, por outro, nota-se um aumento no número de pessoas que têm agido de forma contrária a essas determinações, o que pode ser percebido na escalada dos registros de aglomerações em espaços públicos, e o não cumprimento de resoluções oficiais, como o uso obrigatório de mascarás, a ida às ruas apenas quando necessário e a prática do distanciamento social.
Raiva do outro?
Para as pessoas que estão agindo conforme as instruções das autoridades de saúde, assistir tais ocorrências pode ser desgastante e gerar um sentimento de raiva. A psicóloga explicou que não vale a pena alimentar a irritação ou o incômodo provocado pelo comportamento do outro, pois isso pode ser ainda mais prejudicial para nossa saúde mental.
A gente precisa cuidar de nós mesmo. Eu não mudo o outro, eu posso mudar o outro através das minhas ações, ele pode se transformar a partir da minha transformação. Não adianta brigar. […] O mais importante é cuidar desse sentimento em você, para que isso não gere maior sofrimento, desgaste, te deixe mais nervoso, mais irritado, mais incomodado, insatisfeito. Porque vai ser muito mais difícil conviver com essa realidade, orientou Cláudia Cruz.
Assista à entrevista: Os impactos do distanciamento e do isolamento social na saúde mental das pessoas
Sentimentos e Sintomas
Outro assunto abordado na live foi a possível manifestação de sintomas associados a infecção pelo coronavírus em pessoas com possíveis quadros de ansiedade. A psicóloga explicou que é preciso observar como esses sintomas se manifestam, se são constantes ou se precedem pensamentos de tristeza ou insegurança.
“Ela [a pessoa] precisa se perguntar se essas sensações passam, por exemplo, quando ela conversa com alguém, se isso fica atenuado, se isso melhora”, explicou a profissional.
Contudo, vale ressaltar que, caso sintomas como falta de ar e febre persistam, a pessoa deve procurar atendimento médico. É necessário observar também se esses sintomas são isolados ou estão associados com outros sintomas da Covid-19.
Para os casos onde os sintomas são resultado de processos psicológicos, Cláudia Cruz apresentou estratégias que podem ser utilizadas para atenuar essas sensações e suavizar os impactos da pandemia na saúde mental, como estabelecer uma rotina, realizar atividades prazerosas, praticar atividades físicas e exercícios de respiração.
Uma das determinações das autoridades públicas para barrar o avanço do número de casos de coronavírus, foi restringir o número de pessoas permitidas em sepultamentos. A profissional explicou que é necessária redesenhar os rituais de despedida, pois eles dão sentido para as pessoas que estão se despedindo de um ente querido, e que precisam de um suporte social e do acolhimento.
Cláudia Cruz explica que a nossa realidade pode ser transformada a partir de como enfrentamos a crise da Covid-19. Ela chama atenção para o fato de que não precisarmos enfrentar esse momento sozinhos. Devendo estarmos atentos as dificuldades que podemos estar passando, como organizar uma rotina, fazer coisas prazerosas, falta de concentração e etc.
“Talvez seja o momento de buscar uma ajuda profissional. Temos vários profissionais disponíveis na rede, gratuitamente oferecendo esse serviço, porque a gente sabe que é um momento muito desafiador e a gente precisa cuidar dessas questões” afirmou a psicóloga.