28 de outubro de 2021

Já é tarde | Jornal Correio

A geriatra Fernanda Reis discutiu, em artigo publicado no jornal Correio, sobre a necessidade da desconstrução da imagem de fragilidade que a sociedade tem em relação ao idoso, combatendo estigmas que limitam a autonomia.

Leia o artigo completo.


artigo da geriatra Fernanda Reis

É cada vez mais necessário que ocorra a desconstrução da imagem do idoso como um ser frágil, sem expectativas e improdutivo. A visão de que envelhecer esteja diretamente vinculada à incapacidade é preconceituosa e equivocada, principalmente em uma sociedade como a brasileira, que passa por uma tendência de envelhecimento da população

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o número de pessoas com mais de 60 anos no país já é superior ao de crianças com até 9 anos. Em 2019, o Brasil tinha 32,9 milhões de idosos. Esse número deve representar 25,5% da população brasileira até 2060. Em 2018, essa proporção era de 9,2%.

Apesar da mudança na pirâmide demográfica brasileira, o estigma relacionado à terceira idade continua arraigado na sociedade, que teme pelo processo de envelhecimento, mesmo esse sendo um fenômeno biológico natural da vida humana. Atreladas a isso, existem mudanças físicas, mas que não necessariamente serão incapacitantes. Portanto, estigmatizar o idoso limita sua autonomia, sua interação na sociedade e sua participação no mercado de trabalho. É fundamental mudar a visão sobre o que é longevo para assim abordar a temática com naturalidade.

Nesse contexto, ações que promovam a qualidade de vida do idoso necessitam de mais espaço na nossa sociedade. Acesso à cultura e lazer, melhoria da saúde voltada a esse público e práticas de atividades físicas com acessibilidade são algumas sugestões que precisam ser implementadas no nosso dia a dia pensando no envelhecer.

Essas sugestões, quando colocadas em prática, possibilitam ao idoso a criação de vínculos, estimulam a manutenção da sua capacidade funcional e um envelhecer saudável e produtivo. Portanto, a sociedade precisa repensar o envelhecer, no lugar de criar estigmas relacionados à terceira idade. Ser mais velho está longe de significar que você não tem mais capacidade de aprender, de se atualizar e até mesmo de se reinventar.

Além de uma mudança cultural, também é imprescindível uma renovação institucional com a criação de políticas públicas para melhorar a assistência e garantir os direitos desse público. Um ponto crucial é o fortalecimento da estrutura de atendimento especializado ao idoso no Sistema Único de Saúde (SUS), prevendo uma assistência multiprofissional desse grupo populacional.

Não adianta apenas cuidar da sua doença, é crucial ter uma abordagem holística, desenvolvendo uma visão ampla para tratar esse indivíduo e tudo que pode impactar em sua saúde. Com acompanhamento adequado e inserção social o envelhecimento pode ser vivenciado de uma forma mais plena e autônoma, contribuindo para romper com a visão arcaica do idoso como uma pessoa incapaz.

*Artigo publicado no Jornal Correio em 28/10/2021

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