16 de abril de 2021

Medicamentos para Covid-19: Infectologista alerta sobre uso indiscriminado

A automedicação é um comportamento que os profissionais de saúde desaconselham de modo firme. Isto porque, o uso indiscriminado de medicamentos pode provocar consequências graves à saúde da pessoa.

Nos últimos meses a discussão tem se voltado para o uso de alguns medicamentos no combate e “prevenção” a infecção do coronavírus, como a hidroxicloroquina, azitromicina e a ivermectina.

Os estudos realizados para avaliar a eficácia desses remédios no tratamento da Covid-19 revelaram que os fármacos não trazem benefícios ao tratamento, ou seja, não possuem eficácia, além de apresentar riscos à saúde por conta dos efeitos colaterais associados ao uso dessa medicação.

Por conta da pandemia, passou-se a discutir o tratamento profilático, que é o tratamento precoce, fazendo o uso dessas medicações. Contudo, a comunidade médica e científica não aconselha o uso dessas medicações devido à falta de evidências que justifiquem o uso. Assim, muitas pessoas passaram a adquirir remédios sem prescrição de um profissional médico.

Em entrevista à Rádio Excelsior, o infectologista da S.O.S. Vida, Dr. Matheus Todt, discutiu o assunto.

Tratamento precoce da Covid-19

O tratamento precoce da Covid é: […] abordar precocemente esse paciente, colocar no hospital, colocar oxigênio, dar algumas medicações que podem atenuar o quadro dos pacientes mais graves, mas que são medicamentos de uso estrito intra-hospitalar, como corticoides injetáveis e anticoagulantes.

O tratamento precoce não é dar remédio fora do hospital e achar que vai melhorar. Categoricamente não existe nenhum medicamento que trate ou previna a Covid. O que acontece é: pacientes que ficam graves, se tratados dentro do hospital de forma precoce eles tendem a evoluir melhor, explica o infectologista.

O médico também alerta para os efeitos colaterais que podem surgir a partir do uso desses remédios sem a devida orientação médica.

Além de não terem efeito algum contra Covid, esses medicamentos tem efeitos colaterais, podem ser tóxicos – alguns menos, outros mais – a ivermectina não é tão tóxica, mas utilizada de forma repetida pode ter uma toxicidade hepática muito grande.

Infectologista Matheus Todt

Outro ponto negativo causado pela ideia de que se pode tomar esses medicamentos para prevenir a infecção é a redução do rigor em seguir as reais medidas de prevenção a contaminação (uso de máscaras, frequente higienização das mãos e etc), por uma falsa sensação de proteção, que põe em risco tanto a pessoa que não segue as recomendações sanitárias, como quem segue.

E além disso, esses medicamentos vão terminar iludindo a pessoa, que pode achar que realmente não pega a doença e ser mais displicente com as medidas de proteção, como o distanciamento e o uso de máscara. […] Então nós temos uma corrida às farmácias pra comprar medicamentos que não tem efeito algum. As pessoas estão gastando dinheiro, se expondo a efeitos colaterais e não estão se protegendo.

Risco à saúde

Tratamento precoce como forma de prevenir a infecção pelo coronavírus não existe e, ao adotar a prática da automedicação acreditando na falsa ideia de que é possível impedir a contaminação com medicamentos sem eficácia comprovada, as pessoas estão colocando a vida em um perigo real.

Em São Paulo, conforme divulgou o jornal Estadão, cinco pacientes entraram na fila de transplante de fígado após usarem o conjunto de remédios conhecido como “kit covid”, composto pela hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina entre outros. Além disso, segundo os médicos ouvidos pelo veículo, o kit é apontado como a causa da morte de outros três pacientes, que vieram a óbito em função de uma hepatite causada por remédios.

Sintomas como hemorragias, insuficiência renal e arritmias também são alguns dos sintomas que têm sido identificados em pessoas que fizeram o uso desse conjunto de fármacos.

Embora a cada dia surjam mais evidências que comprovem a ineficácia desses medicamentos, alguns profissionais de saúde têm prescrito esses remédios de maneira equivocada.

“Há uma desinformação muito grande, muita dessa desinformação tem vinda de profissionais de saúde, médicos desinformados e equivocados prescrevendo esses medicamentos”, alerta o infectologista Matheus Todt.

No caso da ivermectina, por exemplo, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) identificou um aumento de 557% nas vendas da droga em 2020 quando comparado a 2019. Ainda segundo a matéria do Estadão, o remédio foi um dos utilizados pelos cinco pacientes que ingressaram na fila de transplante de fígado.

consumo indiscriminado de medicamentos sem eficácia no combate a Covid

Além das evidências científicas que comprovam a ineficácia da ivermectina, a própria fabricante do produto, Merck, já desaconselhou o seu uso.

Veja, abaixo, o trecho do comunicado da farmacêutica Merck Sharp & Dohme (MSD) referente à relação entre o vermífugo e tratamentos contra a Covid-19:

A Merck (NYSE: MRK), conhecida como MSD fora dos Estados Unidos e Canadá, afirma hoje sua posição em relação ao uso de ivermectina durante a pandemia de Covid-19. Os cientistas da empresa continuam a examinar cuidadosamente as descobertas de todos os estudos disponíveis e emergentes de ivermectina para o tratamento de Covid-19 para evidências de eficácia e segurança. É importante observar que, até o momento, nossa análise identificou:

– Nenhuma base científica para um efeito terapêutico potencial contra Covid-19 de estudos pré-clínicos;

– Nenhuma evidência significativa para atividade clínica ou eficácia clínica em pacientes com doença Covid-19, e;

– A preocupante falta de dados de segurança na maioria dos estudos.

Não acreditamos que os dados disponíveis suportem a segurança e eficácia da ivermectina além das doses e populações indicadas nas informações de prescrição aprovadas pela agência reguladora.

Entidades recomendam banimento da prescrição e uso de medicamentos

No dia 23/03/21, um grupo de 81 entidades médicas e científicas brasileiras divulgaram documento no qual alertam sobre a gravidade da situação da pandemia de covid-19 no País e defendem, entre outras medidas, o banimento da prescrição e uso dos medicamentos do chamado ‘kit covid’, que inclui drogas sem eficácia contra a doença, como hidroxicloroquina e ivermectina.

A recomendação veio através de um boletim do Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid-19, organizado pela Associação Médica Brasileira (AMB), e conta com o apoio de sociedades especializadas e de associações locais dos estados, com o objetivo de esclarecer condutas dos médicos, orientar pacientes e “conclamar as autoridades responsáveis à urgente resolução de casos que exclusivamente delas dependem”.

Um dos trechos do documento destaca a ineficácia das medicações no tratamento da Covid-19.

“Reafirmamos que, infelizmente, medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da Covid-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida”.

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