17 de abril de 2021
Manter a positividade é um caminho para a saúde mental | Semana do Cuidado
Saudades, medo, ansiedade, tristeza, determinação, aceitação, negação. Muitas são as emoções que são despertadas pela pandemia, que teve início em março e trouxe consigo a necessidade de isolamento social e mudanças severas na vida e no cotidiano das pessoas.
Diante disso, lidar com os sentimentos e emoções é necessário e determinante para a maneira como cada indivíduo vai superar os desafios que se apresentam em função da Covid-19 e suas consequências.
“Como estamos lidando com as emoções” foi a pergunta que a psicóloga e gerente de gestão de pessoas da S.O.S. Vida propôs para sua palestra durante a Semana do Cuidado na Atenção Domiciliar.
“Se pensarmos no coletivo, talvez nunca tenhamos passado por uma dificuldade maior do que neste momento. Vamos precisar nos adaptar para estas mudanças. É preciso pensar sobre nossas emoções, pois há diferentes momentos, de tristeza, de tédio, de agonia, de raiva, muitos sentimentos, então a proposta é que cada um avalie quais os impactos da pandemia em si mesmo”, colocou Sônia.
Assista à palestra completa
Impactos e adaptações
As mudanças dos últimos meses impactaram em diferentes aspectos da vida das pessoas. O excesso de informação, inclusive com muitas fake news, o rompimento social, o relacionamento virtual, as mudanças no trabalho, na dinâmica individual, familiar e coletiva são apenas alguns exemplos.
“O excesso de informação tem causado angústia nas pessoas, bem como a necessidade do convívio social e o rompimento brusco disso, associada às novas formas de se relacionar, tudo isso, determina um momento muito tenso, no qual precisamos realmente aprender a administrar todas essas mudanças, e aceitar os momentos, não temos muitas opções, então precisamos viver o hoje, o passo a passo, para ficar mais leve”, avaliou a psicóloga.
Ela apontou que o momento é de muitas dificuldades, mas também de cada um avaliar como está lidando consigo mesmo e com a situação.
“É se perguntar: será que eu não posso simplificar algumas coisas na minha vida? Havia tanta coisa que dávamos valor e de repente estamos aqui vivendo de forma mais simples possível. Há a possibilidade de se pensar naquilo que realmente é necessário para cada pessoa”, provocou Sônia.
Relações familiares
O isolamento social trouxe para as famílias dois extremos – o excesso de convivência ou a falta quase total dela. No caso dos familiares que estão na mesma casa, há uma mudança muito grande na dinâmica, pois se antes havia uma rotina de trabalho, estudo e lazer que reduzia o tempo de convivência, agora esta foi intensificada para todos.
“É importante que também possa ter esse olhar para o outro, que cada se pergunte como está a família neste momento, se tem alguém precisando de ajuda, pois é uma situação que mexe com todos. Essa convivência diária está saudável? É possível melhorar? Qual o meu papel nessa família? São perguntas que precisamos nos fazer”, alertou.
Impacto coletivo
A pandemia e as mudanças impostas têm uma dimensão que é coletiva e que mexe com todos, sendo uma realidade para todo mundo.
“Nesse contexto, um questionamento é: será que estou conseguindo me preocupar com o outro? Será que estou tendo uma clara percepção da realidade ou estou agindo como uma ostra, fechado no meu mundo e fingindo que nada está acontecendo lá fora? Qual o meu papel no coletivo e como eu estou o exercendo na sociedade?”, questionou a psicóloga.
Mudanças e adaptação
Sônia enfatizou que as mudanças costumam e devem ser planejadas, mas o cenário imposto pela Covid-19 provocou mudanças bruscas e intensas.
“Um processo de mudança tem fases. Primeiro é preciso o autoconhecimento, saber quem eu sou e o que quero. Depois, o planejamento, seguido da expressão e evolução. No caso das mudanças atuais, pulamos todas essas fases. Não teve um passo a passo. E foi uma necessidade se adaptar. A ameaça agora é se aproximar das pessoas, algo que antes era natural. Então temos que pensar quais são as competências que necessárias para se passar por esse momento”, propôs a psicóloga.
Ela aponta três que considera essenciais: a flexibilidade, o rigor e a autoridade.
A necessidade de ser flexível se traduz em compreender as limitações do novo momento e buscar alternativas para aquilo que não se pode fazer agora, como o convívio social.
O rigor é a disciplina necessária para que se possa fazer o necessário, como seguir as recomendações de segurança e saúde impostas – usar a máscara, fazer isolamento, lavar as mãos.
Por último, a autoridade de decidir por si só e se proteger de influências externas.
Entre os desafios de adaptação pontuados por Sônia Cotrim, estão o fato da situação ser desconhecida para todos e a facilidade em negar o que está acontecendo.
À flor da pele
Sônia destacou alguns sentimentos e emoções que têm sido comuns a muitas pessoas. Um deles é o medo.
“O medo pode te paralisar, mas ele também pode te proteger. O essencial é se perguntar e avaliar como você está lidando com seus medos. Quando ele é algo que desespera, é preciso avaliar se está lhe dominando e como isso está estreitando a sua visão. Uma pergunta para se colocar é: o que seria pior do que isso para nós? Para não perdermos a realidade de que a situação é difícil, mas existem cenários piores”, ponderou.
A psicóloga alertou sobre sintomas de que a saúde mental pode estar sendo afetada. Alguns deles são alteração no sono, do apetite, sensação de fracassado, taquicardia sudorese, pensamento acelerado ou pensamentos paranoicos, obsessivos ou hipocondríacos e humor deprimido. Alguns dos transtornos que podem se apresentar são a ansiedade e depressão.
“Se a pessoa apresenta um ou dois desses sintomas pode ser preciso ajuda especializada”, aconselhou.
Escolha a saúde mental
A especialista destacou a importânciade se escolher a sanidade mental diariamente, pontuando que a mudança só acontece quando se começa a agir. Uma das ações é tentar manter a calma e procurar seguir uma rotina, fazendo planos, dentro do possível, sem se cobrar demais.
“A vida tem que ter propósito, tem que ser sentido. Isso nas pequenas coisas. Existem pequenos hábitos possíveis, como fazer meditação, exercícios físicos e enfatizar o otimismo. Ainda é possível fazer exercícios de respiração e manter atividades de lazer mesmo em casa, como assistir a bons filmes, além de realizar chamadas de vídeo com os amigos e família”, complementa.
Outro ponto é evitar notícias negativas em excesso, além de falar sobre os sentimentos. Sônia ainda indicou a necessidade de se estar atento e disponível para escutar e ajudar aqueles que estão mais frágeis.
Uma dor coletiva
“Essa dor é nossa. Todo mundo está passando por isso. Cada um da sua forma, porém todos estamos na mesma situação. É importante reconhecer o outro, se aproximar com pequenas gentilezas do dia a dia, para tocar o outro com mais cuidado”, afirmou Sônia.
Ela pontou a importância de buscar escolhas que façam bem.
“Todos os dias fazemos escolhas. Mesmo que a pessoa passe o dia na cama, ela escolheu aquilo. Então, eu pergunto, porque não fazer escolhas que tragam bem-estar?”, instigou.
Para concluir, a especialista leu a poesia Tempo de Travessia, de Fernando Pessoa:
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.
Os mais sensíveis
A psicóloga Sônia Cotrim também respondeu perguntas, entre elas sobre como lidar com as crianças e idosos nesse período.
“As crianças geralmente são mais adaptáveis às situações, mas sentem as mudanças do mesmo jeito que os adultos. Tem criança que está adorando ter os pais o tempo todo em casa, mas é preciso um olhar atento, cuidar da rotina delas e perceber o que ela está sentindo. Caso haja uma alteração de comportamento, pode ser preciso buscar ajuda”, comentou.
Sobre as compulsões, seja por comida, limpeza ou outras, Sônia destacou que deve-se tentar mudar o foco, procurando outras atividades, buscando escrever o que fazer naquele dia, sem exagerar nos compromissos e procurar ter rotinas.
“A limpeza, por exemplo, é necessária nesse momento, mas procure perceber se você está deixando isso se tornar uma crise, se está paranoico. Às vezes é preciso buscar atendimento especializado”, disse.
Sobre os idosos que estão em isolamento, longe dos filhos, Sônia destacou que é preciso estar presente, mesmo que de forma virtual, demonstrando atenção e cuidado, pois a solidão pode ser angustiante.
“Seja por vídeo chamada, um aceno da janela, essa atenção é fundamental para quem está no isolamento. É essencial também conversar e destacar que o isolamento é necessário para o bem deles”, aconselhou.
Sônia salientou que muitas vezes as pessoas pensam que felicidade e realização é estar em no processo de euforia, mas a parada faz parte da vida e do aprendizado. “É importante prestar atenção aos sentimentos, procurar mudar atividades que não estão saudáveis, mas se não conseguir, buscar ajuda”, sinalizou.
Semana do Cuidado na Atenção Domiciliar
Com o objetivo de colaborar na disponibilização de informações de qualidade sobre como o cenário da pandemia de Covid-19 pode impactar a saúde de diversas formas, a S.O.S. Vida promoveu a Semana do Cuidado na Atenção Domiciliar, entre 13 e 17 de julho, com palestras de infectologistas, nutricionista, psicólogas e médicos.
Entre os temas, foram debatidos mitos e verdades sobre a Covid-19; manutenção de hábitos saudáveis e de uma alimentação equilibrada para reforçar o sistema imunológico; como diferenciar Covid de outras doenças respiratórias e quando procurar a emergência; cuidados com a saúde mental e como lidar com as emoções conflitantes comuns no momento atual.