17 de abril de 2021
Empresas do setor de saúde enfrentam risco de desabastecimento de insumos médicos durante pandemia
Restrição de importação, redução de carga, barreiras sanitárias e reajustes dificultam compra de suprimentos durante enfrentamento do novo coronavírus.
Arauna Itaicy, coordenadora de suprimentos e logística da S.O.S. Vida, falou sobre o tema para o programa Multicultura da Rádio Educadora (BA).
“A pandemia de Covid-19 causou um grande impacto na cadeia de suprimentos em todo mundo, trazendo um imenso cenário de incertezas. As empresas precisam adotar rapidamente soluções compartilhadas junto a equipe de assistência para um uso mais racional dos insumos, engajando e sensibilizando toda a equipe envolvida no processo”, sugere a coordenadora.
UMA OPERAÇÃO DE GUERRA
O crescimento da demanda e restrições fatores logísticos em todo o mundo colocam em risco o abastecimento de insumos médicos, principalmente os diretamente relacionados ao enfrentamento do novo coronavírus.
De acordo com a Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP), essa situação piora a todo instante. Levantamento realizado pela entidade em março apontou que as empresas de saúde brasileiras tinham um estoque médio de insumos hospitalares para 47 dias, antes da crise, o tempo era de 90 a 120 dias.
Comprar insumos como álcool gel, máscaras, luvas, óculos e roupas de proteção ficou mais caro e mais difícil com o início da pandemia. Esses itens são Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) fundamentais para reduzir o risco de contágio dos profissionais nos atendimentos a pacientes com sintomas da Covid-19.
“O risco de desabastecimento aumenta a todo instante”, diz o presidente da ANAHP, José Antonio de Lima. “Eu nunca vi uma crise como esta.”
Para Arauna Itaicy, a aquisição de EPIs virou uma operação de guerra que requer um planejamento de logística criterioso.
“São vários fatores que afetam a cadeia: dificuldade de importação, redução da carga aérea, barreiras sanitárias nas cidades, retenção de carga e reajustes absurdos, um cenário que reconhecemos como Mundo Vuca (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo). É imprescindível criar um plano de contingência prevendo todas essas variáveis para que não ocorra uma ruptura, porque isso pode representar vidas que são perdidas por falta de material adequado para o atendimento”, destaca.
Com unidades em Salvador (BA), Aracaju (SE) e Brasília (DF), a S.O.S. Vida montou um mapa de criticidade para controlar o estoque de todos insumos.
“A tecnologia é nossa aliada nesse momento, já que a automatização do setor de suprimentos e logística permite um controle diário e ágil do nosso estoque, permitindo avaliar a previsibilidade, evitando compras desnecessárias e garantindo um monitoramento mais assertivo”, explica Arauna.
A coordenadora acrescenta que a empresa de Home Care também implementou o uso racional de EPIs e medicamentos, estimulando a desprescrição, processo de redução ou interrupção de drogas, que visa minimizar a polifarmácia e representa benefícios para o paciente.
Leia também o artigo de Arauna Itaicy publicado no portal da ANAHP : Desafios da Pandemia no abastecimento de insumos farmacêuticos
REAJUSTES NOS PREÇOS
O estoque do mercado interno foi absorvido pelos governos municipais e estaduais, limitando o acesso da rede privada de saúde a oferta importada, que também foi afetada pela pandemia. Com estoque restrito e alta procura, houve um crescimento significativo nos preços. A ANAHP constatou alta de mais de 500% em alguns itens.
Já o marketplace de insumos hospitalares Bionexo, que conecta hospitais a mais de 10 mil fornecedores, registrou um crescimento exponencial na procura por alguns insumos, como as máscaras e álcool em gel, 240% e 216%, respectivamente. Nesse momento de volatilidade da cadeia de suprimentos, itens de limpeza, higiene e alimentação também são afetados pela crise, exigindo melhores práticas de negociação.
Leia também: Coronavírus–Recomendações sobre uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) na Atenção Domiciliar
ARTIGO NO JORNAL A TARDE
O Jornal A Tarde (BA) também publicou um artigo de autoria de Arauna Itaicy tratando sobre os desafios de manter o abastecimento de insumos médicos em meio a pandemia.
Confira o artigo “Desafios da Pandemia no abastecimento de insumos farmacêuticos” publicado no dia 20/05/2020.
A pandemia de Covid-19 trouxe um imenso cenário de incertezas, forçando governos e empresas em todo o mundo a iniciarem medidas de gestão de riscos. Uma das consequências visíveis foi a quebra da cadeia produtiva por conta do fornecimento irregular de insumos, trazendo transtornos para toda a população.
As instituições de saúde, envolvidas na linha de frente desse combate, estão sendo extremamente impactadas pelo desabastecimento de insumos farmacêuticos, material médico e EPIs. Além disso, a escassez no mercado aliada aos impactos logísticos acarretaram um aumento de custo na aquisição, forçando os gestores a avaliarem seus planos e números constantemente.
Impossibilidade de importação da matéria prima, redução da carga aérea, excesso de cargas paradas em portos, suspensão de voos internacionais, apreensão de cargas e as práticas duras de negociação – impondo condição de pagamento à vista e assombrosos e constantes reajustes de preço – e a nossa realidade atual. O conceito de “Mundo Vuca” faz cada vez mais sentido em meio a essa “operação de guerra” que tomou nosso cotidiano. A expressão faz referência a cenários desafiadores que trazem as características de serem Voláteis, Incertos, Complexos e Ambíguos (em inglês Volatility, Uncertertainty, Complexity, Ambiguity).
Essa situação está presente em todo o sistema de saúde, dos hospitais a empresas de home care, impactando no atendimento de pacientes atuais e futuros, podendo contribuir para o aumento no número de mortes. Uma fatalidade imensurável, já que vidas não tem preço.
Diante desta realidade, se faz necessário implementarmos, em uma ação conjunta dos processos de logística e assistência, uma série de “respostas rápidas” que de fato agreguem valor: evitar desperdício, adequar políticas e desenvolver plano de criticidade para todas as categorias de insumos.
Na elaboração do plano de criticidade devem ser previstos gatilhos e ações compartilhadas que sensibilizem a equipe da assistência ao uso racional de insumos farmacêuticos para pacientes assistidos, com iniciativas claras e ordenadas através de ferramentas que direcionem maior objetividade para operacionalização da equipe.
O momento é oportuno para avaliar e aplicar novas condutas de cuidados, como a desprescrição, onde o profissional da assistência pode envolver pacientes e familiares, alertando sobre a importância do uso racional de insumos e da adoção de outros medicamentos disponíveis no mercado com mesma eficácia terapêutica.
A condução, sendo feita com transparência e cuidado, apresentando os riscos atuais e sensibilizando do que de fato agrega valor para o tratamento dos pacientes, deve contribuir para alcançarmos uma situação de menos instabilidade no enfrentamento da pandemia.