17 de abril de 2021
Entendendo os sintomas da Covid-19 | Semana do Cuidado
Febre, tosse, desconforto respiratório, coriza. Todos esses são sintomas de gripe, mas também podem indicar a contaminação pelo novo coronavírus.
A Covid-19 tem quadros parecidos com diversas outras infecções respiratórias, por isso é muito difícil faz o diagnóstico clínico da doença. Em tempos nos quais ir à emergência de um hospital ou a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) sem necessidade pode ser um risco de contaminação para as pessoas, é importante ter ideia de quanto é necessário buscar atendimento hospitalar e como funciona a evolução da patologia.
Para esclarecer sobre esse tema, o médico infectologista da S.O.S. Vida, Matheus Todt, falou sobre “Gripe, Resfriado e Covid-19: Sintomas e Cuidados”, durante a Semana do Cuidado na Atenção Domiciliar.
“Os sintomas da Covid-19 não são específicos, ou seja, são comuns a vários outros quadros de infecção respiratória, como a gripe. Por isso, hoje, se preconiza que qualquer paciente que apresentar sintomas respiratórios e estiver dentro dos grupos de risco – idosos e doentes crônicos graves – deve fazer o exame para diagnóstico da doença. Quem é jovem e faz um quadro leve, não precisa fazer o teste, mas deve se isolar fazer o exame apenas se houver agravamento do quadro”, alertou Matheus.
Assista à palestra completa.
Infecções das vias aéreas superiores (IVAS)
O infectologista salientou as características das principais doenças do sistema respiratório, destacando as Infecções das vias aéreas superiores (IVAS), que correm no nariz, faringe, laringe seios paranasais e ouvido médio. Podem ser geradas por diversos agentes e são muito comuns nas crianças em idade escolar, podendo ocorrer até dez episódios por ano.
Quanto ao comportamento dessas infecções, são sazonais, com tendência a ocorrer no outono e na primavera, mas, na região Nordeste, a maior incidência é nos meses de junho, julho e agosto. As principais IVAS são a rinofaringite, a otite, a faringite, a amigdalite e a rinossinusite, todas agudas.
Tipos de rinifaringite aguda
As infecções mais incidentes são as rinofaringites, que atingem o nariz e a faringe. Entre elas, as mais comuns são o resfriado causado por vírus, com sintomas tênues e graduais, que incluem coriza, espirro, congestão nasal e congestão das mucosas oftálmicas, com o estado geral do paciente preservado, sem febre importante, sem fadiga e sem dor muscular.
Outro tipo comum de rinofaringite é a gripe, causada classicamente pelo vírus influenza, e com um quadro mais súbito e intenso, com queda do estado geral: pode ocorrer febre – as vezes alta – fraqueza e dor muscular.
E a Covid-19?
O novo coronavírus é tem um comportamento muito mutante, não havendo um quadro típico.
“Posso ter um paciente com resfriado e isso ser Covid. Posso ter um paciente com um quadro gripal e isso ser causado pela Covid. E posso ter um paciente que não tenha nenhum desses dois quadros e isso ser Covid. A grande dificuldade de identificar é justamente a falta desse quadro específico. Ela pode ser mais leve ou tão leve quanto um resfriado comum, ou até mais grave que eu quadro gripal”, detalhou Matheus Todt.
O médico destacou que em 80% dos pacientes os quadros são leves, com poucos sintomas, ou até mesmo assintomáticos. Ele enfatizou que se sabe pouco ainda sobre o vírus, em função dos poucos meses de estudos.
“É um vírus antigo que mudou. Ele foi isolado na década de 1960 e até pouco tempo não era um vírus ao qual se dava grande importância, pois os quadros na maioria eram brandos. Ele foi sofrendo mutações e, nos anos 2000, essas alterações passaram a representar perigo para os infectados, matando inicialmente cerca de 10% das pessoas que o contraiam, com quadros de pneumonia grave”, contou.
Essa epidemia ocorreu na China, com uma taxa alta de letalidade, mas foi controlada. No ano de 2012, ocorreu novo surto, na própria China e na Arábia Saudita, com menos capacidade de infectar, mas causando a morte de cerca de 35% dos infectados.
Agora, novamente surge uma mutação do vírus, que também foi identificada na China, com grande poder de infectar, mas baixa letalidade, causando a morte de menos de 5% dos doentes. Dessa forma, o número de mortes é grande não pela gravidade do vírus, mas pela rapidez com que ele se espalha, e o principal risco é que os casos graves fiquem sem atendimento, pela superlotação das UTIs.
“Observamos que o ciclo de mutação do vírus se dá mais ou menos de 10 em 10 anos, logo não será uma surpresa se uma nova epidemia ocorrer por volta de 2030”, observou o infectologista.
Comportamento do Coronavírus
O novo coronavírus tem um tempo de incubação – ou seja, entre a infecção e a manifestação dos primeiros sintomas – em torno de cinco dias, como a maioria dos vírus. A transmissão se dá predominantemente entre pessoas, no contato próximo e por gotículas, que são partículas maiores expelidas ao falar, tossir e espirrar.
Como elas não ficam muito tempo do ar, o contágio ocorre quando há proximidade de menos de dois metros entre as pessoas. A capacidade do vírus ser transmitido é de em média sete dias, a partir do momento que a pessoa é infectada, e um paciente com o vírus geralmente transmite para até duas pessoas. Ainda não se sabe sobre a imunidade, ou seja, por quanto tempo a pessoa que tem a doença fica imune.
Como o Coronavírus se comporta na população
Conforme os dados da China, que são os disponíveis até o momento, a maior taxa de contaminação se dá entre jovens e idosos que têm vida econômica ativa, ainda saem de casa com frequência. Até os 39 anos, a mortalidade é baixa, sendo que mais de 25% dos óbitos são na faixa acima de 70 anos.
O processo de infecção do vírus tem três etapas. De acordo com Matheus, até sete dias, se manifestam os primeiros sintomas. Essa etapa é onde o vírus se multiplica para causar lesão no organismo. Em 80% das pessoas ela é muito branda ou assintomática. A partir do sétimo dia, o paciente pode entrar na fase pulmonar, onde praticamente não se tem mais vírus, mas existe a inflamação.
“Ou seja, o organismo inflama demais, tentando eliminar um vírus que já não existe. Nessa fase, 15% dos pacientes vão apresentar sintomas mais graves, como falta de ar, queda na oxigenação e já terão alterações nos exames de imagem. Alguns desses pacientes podem necessitar de internação, mas sem chegar na fase mais grave da doença, não necessitando de UTI. Porém, algumas pessoas, em especial os idosos e aqueles com doenças crônicas graves, vão evoluir para a fase mais grave, chamada de hiperinflamatória”, apontou.
Nessa terceira fase, ocorre uma tempestade inflamatória, e 5% dos pacientes vão precisar de UTI e ventilação mecânica, e até 50% desses pacientes podem morrer.
“Esse comportamento começa a diferenciar o novo coronavírus dos outros vírus respiratórios. A maioria deles não têm uma curva de gravidade tão acentuada”, informa o infectologista.
Sintomas da Covid-19
Matheus sublinhou que a sintomatologia da Covid-19 é muito vaga, sendo bastante frequente febre, tosse e dor no corpo, o que são comuns também em uma gripe e outras patologias respiratórias.
“Há alguns sintomas mais específicos, como a perda do paladar e do olfato, mas é na minoria dos casos, e ainda assim não é específico, pois pacientes com rinite e sinusite também podem apresentar, o que não ajuda no diagnóstico”, apontou o médico.
Como o agravamento da doença é mais letal que de outras infecções respiratórias, deve ser acompanhado o paciente que evoluiu com falta de ar, aumento da frequência respiratória, sinais de que a oxigenação não está adequada, como extremidades arroxeadas, bem como lábios e olhos, pressão baixa, sonolência, descompensação uma doença de base (cardíaca, hipertensão, diabetes), febre por mais de três dias ou se paciente começar um quadro leve, melhorar e depois voltar a piorar.
“Esses são os sintomas que, embora não específicos, sugerem Covid e uma evolução de maior gravidade. Os casos que devem ser considerados suspeitos são aqueles que apresentam febre e mais um dos sintomas da doença, sendo eles: tosse, dor de garganta, coriza e dificuldade respiratória. Basicamente, todo quadro com sintomas respiratórios hoje no Brasil deve ser considerado como suspeitos de Covid-19, mas nem todos precisam fazer o teste”, pontuou.
Ele completa que para os casos em que é necessário, o exame de RT-PCR é o único capaz de identificar o vírus, mas ele precisa ser feito até sete dias após o aparecimento dos primeiros sintomas, pois é o momento em que há vírus no organismo.
“A sorologia e o teste rápido não têm capacidade de identificar o coronavírus. A função deles é identificar quem já foi exposto, não tendo função diagnóstica e só vão identificar se houve o contato se realizados após o oitavo dia de infecção”, sublinhou o médico.
Tratamentos da Covid-19
O infectologista frisou que não há uma medicação aprovada para o tratamento da Covid-19 e assim como não há vacina. Sobre as medicações que já formam ou vem sendo testadas, um documento recente da Associação de Medicina Intensiva do Brasil, da Associação Brasileira de Infectologia a da Sociedade Brasileira de Pneumologia, no qual foram listados os principais medicamentos que prometem melhorar o curso da doença ou prevenir a Covid, apontou qual a evidência de que eles realmente funcionam.
A cloroquina, hidroxicloroquina, azitromincina, ivermectina e antiretrovirais foram listados como sem evidência de melhora e sem recomendação de uso. Os glicocorticóides foram indicados para utilização apenas em casos muito graves.
“O tratamento para os pacientes que desenvolvem agravamento é suporte. Com oxigenoterapia suplementar, ventilação mecânica precoce e antibióticoterapia empírica, quando os casos são complicados por infecção bacteriana”, afirmou Matheus.
Leia também: Infectologistas contraindicam uso da Ivermectina ou outros medicamentos para combater Covid-19
Prevenção e controle
O médico reforçou que as medidas de prevenção e controle da doença passam pelos cuidados que vêm sendo indicados desde o começo da pandemia: higienizar as mãos constantemente, limpar objetivos e superfícies que possam estar contaminadas, empregar a etiqueta da tosse, evitar tocar o rosto, manter distanciamento, usar a máscara e fazer o isolamento social, que, frisou Matheus, é a medida que faz a diferença entre os países que tiveram um bom controle da epidemia e aqueles que não estão tendo sucesso, como é o caso do Brasil.
Dúvidas recorrentes
Ao responder perguntas ao final da palestra, o médico alertou para o risco de se imaginar que a máscara é uma medida eficaz para proteger quem a usa contra infecção.
“Primeiramente a pessoa tem que usar corretamente, então a máscara no queixo tem que parar. Outro ponto é que ela não faz uma barreira pra a entrada do coronavírus, mas muitas pessoas pensam que estão mais seguras com ela e se descuidam de outros aspetos como a limpeza das mãos. Se usada corretamente ela é importante para fazer uma barreira das gotículas da pessoa que a usa para reduzir a contaminação”, detalhou.
O infectologista ponderou ainda que, para a reabertura de comércio e escolas, é necessário seguir critérios, como casos decrescentes por pelo menos duas semanas e a garantia de que, se houver um aumento, terá leitos de UTI disponíveis, e isso é feito com a avaliação da taxa de ocupação de leitos, que deve estar em menos de 69%.
Leia também: Os riscos associados a hábitos do cotidiano
Semana do Cuidado na Atenção Domiciliar
Com o objetivo de colaborar na disponibilização de informações de qualidade sobre como o cenário da pandemia de Covid-19 pode impactar a saúde de diversas formas, a S.O.S. Vida promoveu a Semana do Cuidado na Atenção Domiciliar, entre 13 e 17 de julho, com palestras de infectologistas, nutricionista, psicólogas e médicos.
Entre os temas, foram debatidos mitos e verdades sobre a Covid-19; manutenção de hábitos saudáveis e de uma alimentação equilibrada para reforçar o sistema imunológico; como diferenciar Covid de outras doenças respiratórias e quando procurar a emergência; cuidados com a saúde mental e como lidar com as emoções conflitantes comuns no momento atual.
As palestras estão disponíveis no canal do YouTube da S.O.S. Vida (https://www.youtube.com/sosvida).
Vacina da Covid-19
Uma das notícias mais esperadas no último ano se tornou realidade: foi iniciada a vacinação contra a Covid-19.
A vacinação terá diversas etapas e deve se prolongar por alguns meses, por isso, é importante ficar alerta para que a população não relaxe nos cuidados de prevenção contra a doença, o que poderia levar a um aumento substancial dos casos.
O médico infectologista da S.O.S. Vida, Matheus Todt, aponta que a vacinação é muito importante no enfrentamento da pandemia e que o início da aplicação das doses é um grande passo.
Ele alerta, porém, que, além do fato da vacinação ser em várias etapas, pois depende da disponibilidade de doses e insumos, serão necessários alguns meses para que ela ajude a frear o coronavírus.
O infectologista Matheus Todt conversou com a reportagem da Band News FM sobre as expectativas e cuidados em relação à vacina de Covid-19.
Ouça a matéria completa.