17 de abril de 2021

Lesões de pele afetam cerca de 59% dos pacientes acamados

No intuito de prevenir o problema, que pode ser evitado com ações simples, 21 de novembro foi instituído como o Dia Mundial de Prevenção de Lesão por Pressão.

As lesões de pele causadas por pressão estão entre os principais problemas que podem gerar complicações em pacientes acamados. No Brasil, 20 mil pessoas nessa condição apresentaram o problema em 2018, e dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revelam que esse é o terceiro tipo de evento mais notificado pelos serviços de saúde do país.

Estas lesões podem levar a muitos agravamentos na condição do paciente e causar a morte. Porém, podem ser prevenidas com os cuidados corretos. Justamente para enfatizar a importância deles, 21 de novembro foi instituído como o Dia Mundial de Prevenção de Lesão por Pressão.

Cuidados com lesões de pressão na pele

O que é Lesão por Pressão?

A lesão por pressão, conhecidas também por úlcera de pressão ou escara, é um dano na pele ocasionado em regiões com protuberâncias ósseas ou áreas com dispositivos médicos que ficam em tempos prolongados sob pressão. Isso impede a circulação sanguínea e gera a destruição do tecido. O problema acomete principalmente pessoas acamadas, cadeirantes ou aquelas com restrições ou impossibilitadas de mudar de posição.

Posições Lessão por pressão

O problema parece simples, mas exige atenção, visto que pode se agravar e acarretar complicações como infecções. Estas bactérias podem atingir órgãos, ossos, sangue e até levar a morte. Para prevenir este agravamento, os cuidados e indicações são bem variados, desde o uso de estratégias para eliminar as pressões em certas áreas do corpo do paciente até uma alimentação adequada e uso de produtos corretos na pele.

“É importante ter atenção a frequência de mudanças de decúbito, ou seja, mudança da posição corporal na cama, descompressões com uso de travesseiros e almofadas, além de colchões adequados. Essas práticas têm como objetivo reduzir a pressão em uma única região do corpo”, ensina a enfermeira Ana Gonzaga, coordenadora do Programa Prevenção e Tratamento de Lesões de Pele S.O.S. Vida.

Ana Gonzaga fala sobre lesões de pele

Fatores de Risco

Alguns fatores influeciam diretamente no risco de desenvolver lesões por pressão:

  • Pessoas com perda de sensibilidade (lesado medular)
  • Idoso incapacitado
  • Pessoa incapaz ou com dificuldade de mobilidade do corpo
  • Portadores de doenças degenerativas
  • Tolerância tecidual reduzida
  • Incontinência urinária ou intestinal
  • Desnutrição ou obesidade

Problema de saúde pública

Reduzir a lesão por pressão é uma das 6 Metas Internacionais de Segurança do Paciente da Organização Mundial de Saúde (OMS). A medida foi tomada em razão da alta incidência de complicação relacionada a esse tipo de lesão no mundo, sendo considerado um problema de saúde pública.

O diagnóstico da lesão por pressão é simples, partindo de uma inspeção diária na pele, observando a presença de áreas avermelhadas, não branqueáveis a pressão, comuns em região de proeminências ósseas (sacra, quadril, calcanhares, região dorsal, orelhas).

Para indicar o risco de desenvolvimento de lesões de pele, é utilizada a escala de Braden, ferramenta desenvolvida por Barbara Braden e Nancy Bergstrom, com o objetivo de ajudar os profissionais de saúde a avaliar o risco de um paciente desenvolver úlcera por pressão. As alterações de pele dos pacientes são registradas, acompanhadas e monitoradas, sendo aplicadas as medidas preventivas de acordo com a necessidade de cada um.

Escala de Braden
Fonte: https://www.formularium.com.br/

Prevenir é melhor remédio

Estima-se que cerca de 59% dos pacientes acamados desenvolvem alterações na pele chamadas de lesões por pressão. Para diminuir o número de ocorrências e garantir maior conforto aos seus pacientes, a S.O.S. Vida instituiu o Programa Prevenção e Tratamento de Lesões de Pele.

O objetivo do programa é envolver cuidadores, familiares e a equipe multiprofissional para assegurar que todas as medidas de prevenção de lesão sejam seguidas.

Lesões de Pele no Home Care

Outro elemento importante nos cuidados é a alimentação, que pode auxiliar no tratamento e prevenção. De acordo com o Protocolo de Nutrição para tratamento de feridas criado pela S.O.S. Vida, uma dieta baseada em proteína, vitamina C e minerais como zinco e ferro ajuda a construir colágeno para recuperar o tecido cutâneo. Essa dieta pode ser obtida com alimentos naturais ou com o auxílio de suplementos, a depender de cada caso.

“A alimentação é um importante recurso para regenerar áreas já afetadas por lesões, mas também para fortalecer o organismo”, aponta a coordenadora do programa.

A hidratação da pele é outro elemento que precisa de maior atenção. Ana Cláudia indica a utilização de produtos sem álcool e à base de ureia, vitamina A e E.

“As vitaminas A e E são capazes de reter água na pele e, com isso, manter a elasticidade e turgor do tecido. Outro fator é o colchão que utilizamos. Hoje nós temos os colchões pneumáticos e também os colchões piramidais, mais conhecidos como colchões caixa de ovo, que são importantes para prevenção”, detalha.

5 Dimensões de Cuidados para Prevenção de Lesão de Pele

O Painel Nacional de Aconselhamento para Lesão por Pressão (NPUAP, na sigla em inglês), entidade americana referência mundial, preconiza cinco etapas de dimensões de cuidados para prevenção, com medidas validadas

1ª) Avaliação de risco

– Uma vez por dia em áreas de proeminências ósseas (joelhos, cotovelos e calcanhares) e duas vezes por dia nas submetidas à pressão de dispositivos
– Desenvolvimento de plano de cuidados para cada tipo de risco

2ª) Cuidados com a pele

– Manter pele sempre limpa e seca, especialmente após episódios de incontinência
– Uso de produtos com pH balanceado para pele
– Hidratação diária com hidratantes e umectantes

3ª) Nutrição

– Manutenção de ingestão nutricional (calórica e proteica) e hídrica adequadas
– Monitorar peso e conscientizar pacientes de risco sobre importância da nutrição

4ª) Posição e movimento

– Mudança de posição a cada duas horas
– Uso de colchão especial, almofadas e/ou de coxins para redistribuir a pressão
– Uso de apoios e/ou proteções para erguer os pés e proteger os calcanhares
– Se necessário, uso de barreiras protetoras: creme barreira, película semipermeável, espuma de poliuretano, substâncias oleosas

5ª) Educação

– Orientação do paciente e de familiares

Leia também: Prevenção e Tratamento de Úlceras por Pressão – Guia de Consulta Rápida (NPUAP/EPUAP/PPPIA)

Amigos da pele

Para garantir que essas ações estão devidamente implementadas para os pacientes, a S.O.S. Vida também promove a campanha educativa Amigos da Pele. Através dela, uma equipe de enfermeiros visita a casa dos pacientes em assistência domiciliar, avaliando os riscos de lesões e fatores que retardam a cicatrização delas.

“A maioria dos nossos pacientes são acamados e têm fatores de risco elevado para a abertura de lesão, então percebemos que precisaríamos de um cuidado especial em relação a esse aspecto”, conta Ana Gonzaga.

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A partir da análise, são indicadas intervenções e orientações às famílias e cuidadores sobre como identificar os sinais de alerta e contribuir para uma melhor recuperação.

“As famílias são fundamentais na prevenção, portanto devem ser preparadas para realizar os cuidados e observar possíveis sintomas, como pele ressecada e com escamação. Se um local está avermelhado ou arroxeado também indica risco, pois demonstra que a circulação de sangue nessa área já está comprometida, explica a enfermeira.

Cuidados com a pele na prática

O bancário Pedro Santana, de 61 anos, de Aracaju/SE, é um caso de sucesso do programa de cuidados da pele da S.O.S. Vida.  Há cerca de 10 anos, teve uma lesão na região do peito com bactéria associada, que se agravou pela demora para buscar ajuda profissional.

Após consultar o médico, ele foi encaminhado para um hospital, onde passou por cirurgia. Depois da alta, começou a receber tratamento em Home Care pela S.O.S. Vida.

“Melhorou muito. Há um ano eu estava praticamente morrendo e hoje estou bem melhor”, conta o paciente. A irmã dele, Maria do Carmo, destaca que não só ela, mas a família inteira só tem a agradecer a S.O.S. Vida “pelo belo trabalho que estão fazendo com Pedro”.

A paciente Cleonice Mesquita, de 81 anos e moradora de Salvador/BA também é um exemplo de sucesso no tratamento.  Diagnosticada com DPOC e Síndrome da Imobilidade, Cleonice tem um histórico de escaras na região sacral e vermelhidão em algumas partes do corpo, as chamadas úlcera por pressão.

“Graças à equipe da S.O.S. Vida, minha mãe é incentivada a sair da cama, a mudar de posição constantemente por isso ela melhorou”, relata o filho Roberto Mesquita. 

Programa de Cuidados da Pele

Outra ação que colaborou no tratamento de Cleonice foi o uso de hidrantes específicos e aumento da hidratação, com a ingestão de mais líquidos seguindo as recomendações da equipe.

Outras lesões de Pele

Além de feridas por pressão, a pele também pode apresentar outras doenças, como a dermatite associada à incontinência. Popularmente chamado de assadura, o problema pode atingir pessoas que precisam usar fralda. Os idosos são mais vulneráveis às lesões, em função da diminuição da elasticidade da pele.

Para evitá-lo, cuidadores e familiares devem evitar deixar essa área úmida e realizar a limpeza com frequência. Esta deve ser realizada sempre que necessário, com água e sabão. É indicado o uso de um creme preventivo, que forma uma barreira de proteção para a pele, assim como o uso de sabonete líquido com PH ácido.

Outra lesão comum associada à fragilidade da pele são os Skintears, ferimentos que surgem quando há um ressecamento do tecido, criando uma lesão que libera uma secreção.

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Eles podem ser prevenidos com hidratação da pele com produtos adequados e alimentação balanceada com nutrientes para manter a elasticidade. Outra orientação é evitar o uso de esponja no banho para que a fricção não provoque uma ferida e também de adesivos, como curativos e fitas, que podem machucar no momento da remoção.

Existe ainda lesões causadas por comprometimento venoso ou em decorrência de outras doenças, como a diabetes e insuficiência vascular. Essas patologias comprometem a sensibilidade e a circulação de sangue nessas regiões, trazendo mais risco de ferimentos nas extremidades, principalmente pés e pernas.

Para prevenir, é recomendado acompanhar os níveis de glicemia, pressão arterial e manter uma alimentação adequada. Também são indicadas ações como aparar as unhas com cautela para evitar cortes, secar entre os dedos após o banho e usar calçados abertos e confortáveis. O uso de meias compressivas também pode ser indicado, assim como acompanhamento com médico angiologista.

Lesões de pele e EPIs

Trabalhadores que necessitam fazer uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) por períodos longos, como é o caso de muitos profissionais de saúde, também podem desenvolver lesões na pele.  

Com pandemia de Covid-19, o uso constante de máscara e outros EPIs trouxe um aumento desses casos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a alertar para a necessidade de cuidados específicos nos casos de uso de máscaras e outros EPIs superior a quatro horas.

Um levantamento feito em um hospital de referência para atendimento de Covid-19 na China apontou que 97% dos trabalhadores apresentaram alterações na pele em decorrência do uso dos EPIs.

Lesões de Pele por uso de EPIs

Há registro de dermatite e dermatoses e lesões por pressão, fruto da combinação de fricção e acúmulo de umidade com a utilização da máscara sobre a face. De acordo com a enfermeira Ana Gonzaga, o problema é de fácil tratamento no início, mas pode se agravar se não tratado com brevidade.

“Lesões de pele podem parecer ocorrências simples, iniciando de maneira superficial com surgimento de marcas, hiperemia, conhecida popularmente como ‘vermelhidão’, podendo evoluir com piora, como o aumento do comprometimento cutâneo, trazendo consequências à saúde do profissional, que pode ser afastado da assistência, já que a ferida representa uma porta aberta para infecções, o colocando ainda mais em risco”, explica.

Algumas medidas preventivas podem ajudar a fortalecer a pele, evitando as lesões, como a descompressão na face, programando momentos de alívio de pressão, por pelo menos 15 minutos a cada duas horas, levantando as laterais da máscara.

Ana Gonzaga enfatiza, porém, que é necessário muito cuidado nessa prática, já que há risco de contaminação pelo coronavírus ao remover o equipamento. Ela também orienta limpar o rosto e mãos com sabonete líquido de pH neutro e utilizar creme hidratante sem corante na composição.

Outra recomendação é aplicar uma cobertura profilática que ajuda a minimizar a pressão na pele, reduzindo a probabilidade de formar uma lesão. Há opções como espuma de poliuretano, silicone, película protetora, filme transparente ou placas de hidrocoloide, de espessura fina ou extrafina, para não comprometer a vedação da máscara.

Além disso, é importante o cuidado com a alimentação que deve ser baseada em proteína, vitamina C e minerais como zinco e ferro, o que ajuda a construir colágeno para recuperar o tecido cutâneo.

Entrevista Rádio Excelsior

Em sua participação no programa de rádio “Manhã Excelsior”, Ana Gonzaga pôde explicar um pouco sobre o trabalho desenvolvido na S.O.S. Vida.

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