9 de setembro de 2021
Fonoaudiologia ajuda a recuperar deglutição e fala de paciente em Home Care

Disfagias em geral são decorrentes de alterações neurológicas ou nas estruturas anatômicas do indivíduo
“Depois da fonoaudiologia meu marido melhorou muito e hoje ele está fazendo o desmame da gastrostomia e já fala normalmente”.
O depoimento é da esposa de um paciente da S.O.S. Vida em Salvador que sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico e precisou de fonoaudiologia para recuperar a deglutição e a fala.
O paciente em questão apresentava indicação de Internação Domiciliar, com necessidade de uso de ventilador mecânico, após ter ficado em coma no hospital, fazendo uso de traqueostomia e gastrostomia. O primeiro dispositivo já foi retirado e o segundo está em processo de desmame.
Com isso, em breve o paciente poderá ter alta da Internação Domiciliar e aos poucos se reestruturar em uma nova dinâmica mais independente e interagindo cada dia mais.
Esse exemplo demonstra a importância da fonoaudiologia para a recuperação dos pacientes em Home Care que possuem sequelas neurológicas ou comprometimento da voz ou fala.
De acordo com a fonoaudióloga Fabiana Pedrosa, coordenadora do Instituto de Fonoaudiologia da Bahia (Ifba), que acompanha os pacientes da S.O.S. Vida, esse serviço é implantado após solicitação médica e avaliação da equipe multiprofissional. Muitas vezes o paciente já sai do hospital com a indicação médica por ter dificuldade de deglutir os alimentos (disfagia) ou por algum tipo de problema na fala.
Fabiana destaca que as disfagias em geral são decorrentes de alterações neurológicas ou então nas estruturas anatômicas do paciente.
“Ocorrem demandas também de alterações de linguagem, fala e voz, na maioria dos casos de origem neurológica”.

Lidando com múltiplas comorbidades no Home Care
Geralmente os pacientes de Home Care apresentam múltiplas comorbidades, na maioria dos casos idosos, com necessidades complexas. A especialista destaca que os déficits de memória e outras funções cognitivas devem ser consideradas, pois são fatores de risco para evolução da disfagia.
“A frequência do atendimento no Home Care vai depender do grau de comprometimento nas funções do sistema estomatognático, e a sua autonomia e independência, as quais são individualizadas para cada paciente”, explica a especialista.
Nesse sentido, as condutas na fonoaudiologia não são engessadas, mas planejadas de acordo com as condições clínicas do paciente e da evolução da doença de base. Fabiana lembra que a abordagem da S.O.S. Vida é humanizada e acolhedora e por isso cada paciente é tratado de forma personalizada.
Ela dá o exemplo hipotético de um idoso jovem que sofreu um Acidente Vascular Encefálico (AVE) e teve alteração na fala e disfagia.
“O prognóstico, dependendo da extensão do AVE, é de uma alta mais rápida do que, como exemplo, os pacientes com doenças neurodegenerativas, como demência de Alzheimer e Parkinson”.
Fabiana destaca que pesquisas indicam percentuais oscilando de 51,8 a 64% de disfagias e 52% de alterações de linguagem em pacientes internados em Home Care.
“Se direcionarmos a estudos mais específicos, como por exemplo em população com sequelas de AVE, o percentual sobe para 76,5% de pacientes disfágicos”.

Pacientes crônicos são a maioria
Corroborando a informação de Fabiana, Dra. Ana Rosa Humia, coordenadora médica da S.O.S. Vida (BA), lembra que mais de 80% dos pacientes são neuropatas crônicos. Isto é, geralmente têm comprometimento neurológico e isso frequentemente leva a problemas na mobilidade e na respiração, além de disfunção da fala e na ingestão dos alimentos.
“Quando o paciente é internado em Home Care ele não vem acompanhado apenas da assistência médica e da enfermagem, mas também das terapias para reabilitação e uma delas é a fonoaudiologia.”
Dra. Ana Rosa ressalta ainda que para o perfil de pacientes em Home Care, a maioria restritos ao leito, não tem como fazer o tratamento na rede ambulatorial.
“Às vezes ele sai do hospital sem conseguir comer pelas vias normais e nem falar e a fonoaudiologia usa técnicas para reabilitá-lo”.

A médica pontua que o fonoaudiólogo treina cuidadores e familiares para ajudarem o paciente a comer.
“Se ele ingerir o alimento de forma incorreta, pode ocorrer uma broncoaspiração e gerar insuficiência respiratória ou mesmo uma infecção”.
Ela relata que ao longo dos anos a equipe multidisciplinar testemunhou vários exemplos de pacientes que recuperaram a capacidade de falar ou deglutir com a ajuda desses profissionais.
Critérios para indicação da avaliação fonoaudiológica
- Apresentar instalado distúrbio da deglutição (dificuldade no controle oral do alimento e lentidão na deglutição);
- História de broncoaspiração anterior e condições pulmonares;
- Presença de traqueostomia (repercussão das funções respiratórias e de deglutição);
- Problemas de comunicação – linguagem, fala e voz.